“MAGALHÃES” FOI UM FRACASSO – ESTUDO DA PORTUCALENSE REVELA CAUSAS

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AMOSTRA COMPOSTA POR 682 AGENTES EDUCATIVOS DO 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO DO CONCELHO DE MATOSINHOS

O computador “Magalhães” foi um fracasso devido, essencialmente, à sua fraca integração nas atividades letivas, revela um estudo da Universidade Portucalense (UPT), subordinado ao tema ‘Avaliação do impacto do portátil Magalhães no 1º ciclo do ensino básico do concelho de Matosinhos: fatores de (de)motivação no contexto educativo’. O estudo, que analisou 682 agentes educativos – 400 alunos, 181 encarregados de educação e 101 professores – do 1º ciclo do ensino básico do concelho de Matosinhos, permite concluir que não houve um retorno imediato por parte das instituições escolares, que apenas utilizavam esta ferramenta de forma esporádica dentro do contexto de sala de aula. Recorde-se que o Governo Português tentou introduzir o computador, a partir de 2008, no plano tecnológico, o que levou a um investimento superior a €50M.

“A primeira grande ilação que podemos retirar é de que o portátil ‘Magalhães’ serviu mais como um apoio simples e não como um recurso central de inovação pedagógica. Os resultados deste estudo permitem-nos verificar que 89,1% dos professores, 84,5% dos encarregados de educação e 86% dos alunos consideram que nunca ou raramente o computador é utilizado nas salas de aula”, afirma João Paulo da Silva Miguel, autor do estudo realizado no âmbito do doutoramento em Educação da UPT. De acordo com o estudo, orientado por Eusébio Machado e Natércia Durão, a segunda ilação a retirar é a de que os alunos, de forma autónoma, intuitiva e produtiva, foram descobrindo novas competências, como se pode demonstrar pela facilidade na exploração das interligações entre várias realidades mediáticas, tais como jogar, fazer pesquisas, ouvir música ou navegar na internet. A terceira ilação está relacionada com os professores, que precisam de adquirir e desenvolver competências para poderem utilizar o portátil ‘Magalhães’, em especial, e as TIC na educação em geral.

Por último, o estudo mostra que existe uma dificuldade, por um lado, por parte dos alunos, em preservar os portáteis ‘Magalhães’ em termos funcionais, e por outro, por parte dos professores, pela falta de coordenação do projeto, uma vez que se sentiram sozinhos e sobrecarregados com a burocracia e as avarias dos computadores. “Houve, também, falta de liderança, envolvimento e incentivo por parte dos diretores dos agrupamentos, falta de salas apetrechadas com tomadas e com ligação à internet, falta de assistência técnica aos portáteis, que avariam com frequência e facilidade, e falta de modelos/tipos de planificação que integrem o ‘Magalhães’ nas atividades letivas e nos currículos dirigidos aos alunos do 1º ciclo do ensino básico”, explica o autor do estudo da Portucalense.

Para o autor, o estudo permite, de um modo geral, verificar que o acesso a ambientes tecnológicos, por si só, não é suficiente para o sucesso, uma vez que existe necessidade que a escola forme alunos autónomos, críticos e criativos dotados de capacidade para usarem as tecnologias. “A ideia da distribuição massiva dos ‘Magalhães’, com finalidade de democratização do acesso às tecnologias e sua implementação no quotidiano das salas de aula para preparação do cidadão para o futuro, parece estar voltada ao fracasso. Existe um longo caminho a percorrer para valorizar o esforço financeiro que foi aplicado e permitir que as tecnologias sejam incluídas de forma transversal nos currículos, surgindo nas escolas do 1º ciclo de uma forma sistemática e planeada, em vez de pontual e espontânea”, conclui João Paulo da Silva Miguel.
 

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