Um regresso às aulas marcado por desafios sociais, digitais e emocionais

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Terceira Conversa Online organizada pela Ajuda em Ação sobre o “Regresso às aulas em pandemia: desafios sociais e digitais”

 

As grandes incertezas relativas a este regresso à escola estão a preocupar pais, professores e alunos. Preocupações essas, que levaram Lorena Boga, David Botas, Manuel Fernandes e Roger Meintjes, os quatro convidados da terceira sessão das Conversas Online da ONG Ajuda em Ação, a juntarem-se à moderadora Fernanda Freitas para discutir o tema “Regresso às aulas em pandemia: desafios sociais e digitais”.

 

A solução do “ensino à distância não serviu para todos”

Numa altura marcada pelo regresso às aulas de muitas crianças e que exige que toda a comunidade educativa se adapte à chamada “nova normalidade”, é necessário refletir-se acerca do que aconteceu ao longo dos últimos meses com o ensino à distância. Para David Botas, Assessor da Direção do Agrupamento de Escolas de Camarate, “sem dúvida que o ensino à distância não serviu para todos os alunos” porque acentuou as desigualdades sociais. “Os mais pobres, os mais vulneráveis, os mais frágeis foram as primeiras vítimas da exclusão social na escola, porque não tinham ligação à Internet, porque não tinham computador”, ressalvou, por sua vez, Manuel Fernandes, da Agência Nacional Erasmus. A distribuição e recolha dos trabalhos de casa por parte do animador social do Agrupamento de Escolas de Camarate, e que colabora com a ONG Ajuda em Ação, Mário Barros, foi, por isso, essencial para  assegurar que o acesso à educação continuava mesmo não sendo presencial.

Já em Espanha, a ONG disponibilizou tablets e hotspots a 2 mil famílias para que as crianças pudessem continuar o seu percurso escolar. No entanto, não está apenas em causa o acesso ao dispositivo eletrónico, mas também a capacidade de o usar, como alertou Roger Meintjes, fundador do projeto Fundakit. De acordo com um estudo realizado pela Ajuda em Ação Espanha, 62% das crianças das 37 escolas inquiridas não possuem competências digitais básicas, como, por exemplo, fazer uma pesquisa simples no Google, e apenas 32% têm competências digitais suficientes para acompanhar as aulas, mas de uma forma muito superficial. Lorena Boga, da Ajuda em Ação Galiza, avançou ainda durante a sua intervenção que este estudo veio demonstrar que “a maioria destes alunos teve um retrocesso no seu processo educativo devido a esta brecha digital e à falta de competências digitais”.

Em Espanha, durante a pandemia, a Ajuda em Ação entregou tablets e hotspots a 2 mil famílias.

 

Os desafios digitais e sociais no regresso às aulas

Os desafios digitais do ensino à distância são também transversais ao regresso às aulas. Assim, para apoiar as escolas, alunos e famílias, a Ajuda em Ação Galiza tem estado a desenvolver o projeto “Escolas Digitais Resilientes” que visa criar um banco de dispositivos nas escolas onde a ONG está presente, para que as crianças possam utilizá-los da mesma forma que requisitam um livro na biblioteca. Além disso, está concentrada em incluir as competências digitais nas atividades extracurriculares destas crianças e a desenvolver um projeto de voluntariado digital, no qual o voluntário pode acompanhar uma criança nas suas tarefas escolares. Foi ainda criada uma rede de cooperação entre estabelecimentos de ensino para que, caso surjam novos desafios ou dificuldades, possam partilhar boas práticas, experiências e tornarem-se mais resilientes.

As intervenções dos convidados ao longo da conversa também se centraram nos desafios sociais que aí vêm. Primeiro, para Manuel Fernandes, é preciso recuperar a “centralidade” da escola ao nível da transmissão de conhecimentos, da proteção dos alunos ou da satisfação de necessidades básicas como a alimentação, algo que durante o confinamento ficou, muitas vezes, nas mãos de outras organizações. Outro dos principais desafios será “tentar encontrar um ponto de equilíbrio entre as recomendações sanitárias e o convívio e o bem-estar dos alunos na escola”, acrescenta David Botas. “A partilha de experiências durante o confinamento, a reflexão sobre esta nova realidade da escola, o sentimento de segurança, a empatia, a colaboração entre pares e a ligação à comunidade” são tudo aspetos que para o representante do Agrupamento de Escolas de Camarate devem ser cultivados junto dos mais novos de modo a que desenvolvam um sentimento de pertença em relação à escola.

 

O bem-estar socioemocional não pode ser esquecido

Durante a pandemia, o bem-estar de muitos adultos e crianças foi afetado. E com todas as incertezas geradas à volta deste recente regresso à escola, a situação não melhorou. “Por um lado, presenciamos a felicidade por poder voltar à nova normalidade e, por outro, a preocupação e o medo em relação ao risco de contágio e aos novos casos que possam surgir quer entre os professores, quer entre os alunos”, referiu Lorena Boga.

É, por isso, fundamental que se assegure o bem-estar socioemocional de toda a comunidade educativa, mas, sobretudo, dos alunos. David Botas explica que, no Agrupamento de Escolas de Camarate, onde a Ajuda em Ação tem um projeto educativo, trabalharam junto dos pais e encarregados de educação no sentido de tranquilizar as crianças dentro da medida do possível e na preparação para o cumprimento das novas regras impostas na escola.

Ao longo de mais de 1 hora de conversa que ficou marcada também pela partilha de dúvidas, reservas e desabafos do público com a moderadora Fernanda Freitas e os quatro convidados, ressalvamos a nota de tranquilidade e conforto de David Botas: “A escola tem de ser a nossa segunda casa e, apesar dos sorrisos estarem escondidos, vamos aprender a sorrir com os olhos, aprendendo também a estar na escola e de acordo com as regras”.

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