4 Portugueses finalistas no Prémio Portugal Telecom de Literatura
Lisboa, 25 de setembro 2014
Os doze finalistas do Prémio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa 2014, selecionados entre os 64 livros classificados na etapa anterior, são quatro escritores de Portugal e oito escritores do Brasil.
Na poesia, chegam à final dois poetas portugueses e dois brasileiros: Ana Luísa Amaral e Gastão Cruz comprovam a alta qualidade estética da poesia portuguesa atual; e Guilherme Gontijo Flores e Zuca Sardan servem-se da ironia e do humor para dar vigor à poesia brasileira atual.
Na categoria romance, o português Gonçalo M. Tavarez reafirma a força criativa que vem desenvolvendo ultimamente; os brasileiros Carlos de Brito e Mello e Sérgio Rodrigues demostram um domínio seguro de linguagem e de encadeamento narrativo; e Verônica Stigger renova a tradição de viagens dando um tom de contemporaneidade ao desacerto e descobertas dos deslocamentos.
Na categoria contos e crónicas, três livros que espelham o melhor da crónica em língua portuguesa: a portuguesa Alexandra Lucas Coelho, e os brasileiros Antônio Prata e Luís Henrique Pellanda são exemplos acabados de como o humor, o apuro de linguagem e um sentido de observação oblíquo podem gerar crónicas impecáveis e divertidas.
O único livro de contos da categoria, de Everardo Norões, é um exemplo de concisão e de apuro linguístico.
O júri que elegeu as doze obras foi formado pelos quatro atuais curadores –
Selma Caetano (curadora-coordenadora); Cintia Moscovitch (curadora de contos/crónicas); Lourival Holanda (curador de romance); Sérgio Medeiros (curador de poesia) – e pelos seis jurados, eleitos pelo corpo inicial de jurados (João Cezar de Castro Rocha; José Castello; Leyla Perrone-Moisés; Luiz Costa Lima: Manuel da Costa Pinto; e Regina Zilberman).
FINALISTAS CATEGORIA ROMANCE 2014
A cidade, o inquisidor e os ordinários, de Carlos de Brito e Mello – Companhia das Letras
Um “inquisidor” percorre a cidade apontando as falhas dos moradores que, por sua vez, aderem ao mesmo comportamento, e toda a cidade se converte numa espécie de auto de fé ou farsa. Com uma linguagem precisa que fere na altura exata, neste romance tudo pode ser lido indiretamente: a contaminação da fofoca nas redes sociais, a moralização dos arautos, a passividade moral, etc.
Matteo perdeu o emprego, de Gonçalo M. Tavares – Editora Foz
Com uma fusão de ensaio e ficção, o romance arma-se como um jogo de xadrez: as personagens tocam-se e seguem adiante, em outros lances. No dia-a-dia cada um tangencia outras tantas pessoas – sem que se saiba que princípio organiza as redes impercetíveis dos nossos contatos. Ironicamente o autor escolhe a ordem alfabética para fazer a aparição das personagens. Matteo perde o emprego é uma metáfora da perversão do sistema: o especialista é alguém reduzido a ser uma peça na engrenagem; o desempregado é reduzido a aceitar o que as circunstâncias oferecerem.
O drible, de Sérgio Rodrigues – Companhia das Letras
Um péssimo pai, cronista de futebol aposentado, que, desenganado, decide reatar relações com o filho, para compor uma tragédia burguesa que atravessa a memória política dos anos 70 e os dolorosos descaminhos da memória particular.
Sétimo título da obra de Sérgio Rodrigues, o romance é ainda uma narrativa de viagem, da memória e da busca de fabricação de um sentido que ligue os factos – mais sofridos que entendidos. Um ajuste de contas protelado como um drible, entre pai e filho.
Opsanie swiata, de Verônica Stigger – Coisac Naify
Uma narrativa que funde registros, jornais, cartas, postais dando uma dimensão plástica à memória em movimento de um pai polonês na busca de um filho na Amazônia. O romance cruza também as memórias literárias de viajantes anteriores, de Raul Bopp a Oswald de Andrade. Com uma ironia que contém a sentimentalidade no ponto exato.
Verônica Stigger publicou o seu primeiro livro, O trágico e outras comédias, em Portugal.
FINALISTAS CATEGORIA POESIA 2014
Brasa enganosa, de Guilherme Gontijo Flores – Editora Patuá
Uma saborosa metafísica “enganosa” que relê clássicos nacionais, como Carlos Drummond de Andrade e Roberto Piva, indo da brevidade à composição de maior fôlego, a qual paga tributo humorado a Walt Whitman, nos versos da impagável “Song of itself”.
Observação de verão seguido de fogo, de Gastão Cruz – Móbile Editorial
Os poemas de Gastão Cruz são concisos e imagéticos e falam de teatro e de performance para mostrar a situação do sujeito contemporâneo, esse ator anónimo ou desconhecido que talvez nem sempre se dê conta de que “Não é vida a imagem que se move”.
Ximerix, de Zuca Sardan – CosacNaify
Comprovando que, nos dias atuais, a experimentação não é mais rutura com a tradição, mas um diálogo humorado com o maior número possível de tradições, Zuca Sardan é um novo tipo de dadaísta que revitaliza em língua portuguesa Edward Lear e Apollinaire, entre tantos outros mestres do passado, que ressurgem agora renovados.
Vozes, de Ana Luísa Amaral – Editora Iluminuras
Assume diversas “personae”, que são as vozes da memória e dos sonhos que habitam a sua poesia, a qual também incorpora, entre outras estratégias para dar conta da vertigem de reflexos, a tradução de Rainer Maria Rilke, que aparece no livro com “outra” voz.
FINALISTAS CATEGORIA CONTO/CRÓNICA 2014
Asa de sereia, de Luís Henrique Pellanda – Arquipélago Editorial
Asa de Sereia tem a cidade de Curitiba reinventada e examinada pelo cronista Pellanda. Ela é o palco onde ganham vida personagens impercetíveis, monumentos e ruas aparentemente comuns da capital paranaense, com uma grande dose de observação que vai desde a observação do voo de um grupo de garças, até a narração do infortúnio de um sabiá.
Entre moscas, de Everardo Norões – Confraria do Verbo
O formato não convencional dos contos de Entre moscas imprime um ritmo arbitrário à leitura, exigindo que o leitor se concentre na melodia para alcançar seu encantamento. Norões constrói os personagens com nuances de medo, coragem, desprezo, desejo, ternura, solidez, tudo envolto em embalagem de sombra, em sentimentos mais resguardados do que revelados, deixando forte impressão sobre os leitores.
Nu, de botas, de Antonio Prata – Companhia das Letras
Em Nu, de botas, Antonio Prata revisita as passagens mais marcantes de sua infância. As memórias são iluminações sobre os primeiros anos de vida do autor, narradas com precisão e humor. As primeiras lembranças no quintal de casa, os amigos da vila, as férias na praia, o divórcio dos pais, o cometa Halley, Bozo e os desenhos animados da TV, a primeira paixão, o sexo descoberto nas revistas pornográficas - toda a educação sentimental de um paulistano de classe média nascido em 1970 aparece no romance.
Viva o México, de Alexandra Lucas Coelho – Tinta da China
Um passeio pelas principais cidades do México e também pelos seus temas, debates e aspetos culturais sem, no entanto, limitar-se a inchar os clichês, sublinhar o que os jornais já se cansaram de dizer ou reproduzir visões meramente pessoais.
Alexandra Lucas Coelho, correspondente internacional de vários veículos portugueses, no Oriente Médio e na Ásia Central, viajando pelo mundo percebeu que a literatura vai a lugares que a reportagem não alcança.
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