A pandemia da COVID-19 sobrecarregou o sistema de sau´de do Brasil
Uma ana´lise dos primeiros 250.000 pacientes internados em hospitais por coronavi´rus revela uma alta mortalidade e desigualdades na qualidade dos cuidados de sau´de em todas as regio~es do pai´s.
Lisboa, 18 de janeiro de 2021.- A disseminação da COVID-19 no Brasil sobrecarregou os sistemas de sau´de de todas as regio~es do Brasil, principalmente em a´reas onde ja´ havia fragilidade, de acordo com um estudo colaborativo do Instituto de Sau´de Global de Barcelona (ISGlobal), instituic¸a~o promovida pela Fundac¸a~o ”la Caixa”, a USP (Universidade de Sa~o Paulo), a PUC-RJ (Pontifi´cia Universidade Cato´lica do Rio de Janeiro), o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino e a Fundac¸a~o Oswaldo Cruz. Os resultados, publicados na revista The Lancet Respiratory Medicine, revelam que uma grande porcentagem de pacientes com COVID-19 que foram hospitalizados no Brasil necessitaram cuidados intensivos e suporte respirato´rio, e muitos na~o sobreviveram.
A pandemia de COVID-19 colocou uma enorme pressa~o sobre os sistemas de sau´de em todo o mundo, aumentando a demanda por profissionais de sau´de e a necessidade de leitos em unidades de terapia intensiva e suportes respirato´rios, como ventiladores. No entanto, a taxa de mortalidade entre os casos confirmados tem variado muito entre os pai´ses, em grande parte devido a`s diferenc¸as na capacidade e preparac¸a~o de seus sistemas de sau´de.
“Ate´ o momento, os dados sobre a mortalidade de pacientes hospitalizados com COVID-19 sa~o muito limitados, bem como os dados sobre como os sistemas de sau´de te^m lidado com a pandemia em pai´ses de renda baixa e me´dia”, explica Otavio Ranzani, pesquisador do ISGlobal e primeiro autor do estudo. O Brasil, por exemplo, e´ um pai´s de renda me´dia-alta com um sistema u´nico de sau´de para seus 210 milho~es de habitantes. No entanto, o sistema de sau´de u´nico do pai´s tem sido prejudicado pelas recentes crises econo^micas e poli´ticas e ha´ grande heterogeneidade nas diversas regio~es do pai´s.
Ranzani e seus colegas usaram os dados de um sistema nacional de vigila^ncia para avaliar as caracteri´sticas dos primeiros 250.000 pacientes internados em um hospital com COVID-19 no Brasil, se eles necessitaram de cuidados intensivos ou suporte respirato´rio, e o nu´mero de o´bitos. Eles tambe´m analisaram o impacto da COVID-19 nos recursos de atendimento me´dico e a mortalidade hospitalar nas cinco grandes regio~es do pai´s.
A ana´lise mostra que quase metade (47%) dos 254.288 pacientes internados no hospital com COVID-19 tinha menos de 60 anos. A taxa de mortalidade hospitalar foi elevada (38%) e aumentou para 60% entre os internados em unidade de terapia intensiva (UTI) e para 80% nos que receberam ventilac¸a~o meca^nica. Embora a COVID-19 tenha sobrecarregado o sistema de sau´de em todas as cinco regio~es, as internac¸o~es hospitalares e a mortalidade foram consideravelmente maiores nas regio~es Norte e Nordeste no ini´cio da pandemia (por exemplo, 31% dos pacientes com menos de 60 anos de idade morreram em hospitais do Nordeste, comparados a 15% da regia~o Sul).
“Essas diferenc¸as regionais na mortalidade refletem as diferenc¸as no acesso a melhores cuidados me´dicos, ja´ existentes antes da pandemia”, explica Fernando Bozza, coordenador do estudo e pesquisador do Instituto Nacional de Doenc¸as Infecciosas. “Isso significa que a COVID-19 na~o afeta apenas desproporcionalmente os pacientes mais vulnera´veis, mas tambe´m os sistemas de sau´de mais fra´geis”, acrescenta. “O sistema de sau´de do Brasil e´ um dos maiores do mundo a oferecer atendimento gratuito para toda a populac¸a~o e tem uma so´lida tradic¸a~o na vigila^ncia de doenc¸as infecciosas. No entanto, a COVID-19 superou a capacidade do sistema”, afirma Ranzani.
Os autores concluem que a alta mortalidade observada em hospitais reforc¸a a necessidade de melhorar a estrutura e a organizac¸a~o do sistema de sau´de, principalmente em pai´ses de renda baixa e me´dia. Isso significa a necessidade de aumentar os recursos disponi´veis, tais como equipamentos e insumos, leitos de UTI e profissionais de sau´de preparados.
Refere^ncia
Ranzani OT, Bastos LSL, Gelli JGM et al. Characterisation of the first 250000 hospital admissions for COVID-19 in Brazil: a retrospective analysis of nationwide data. Lancet Resp Med. Jan 2021, doi:10.1016/S2213-2600(20)30560-9.
Sobre o ISGlobal
O Instituto de Sau´de Global de Barcelona (ISGlobal) e´ fruto de uma alianc¸a inovadora entre a Fundac¸a~o ”la Caixa” e diversas instituic¸o~es acade^micas e governamentais para apoiar a comunidade internacional em seu compromisso de responder aos desafios de sau´de a ni´vel mundial. O ISGlobal e´ uma instituic¸a~o consolidada de excele^ncia em pesquisa que nasceu primeiramente do trabalho no a^mbito hospitalar do Hospital Cli´nic e do Parc de Salut MAR e da a´rea acade^mica da Universidade de Barcelona e da Universidade Pompeu Fabra (todos de Barcelona). Seu modelo de trabalho esta´ comprometido com transferir conhecimentos gerados pela cie^ncia para a pra´tica, atrave´s das a´reas de Formac¸a~o e Ana´lise e Desenvolvimento Global do Instituto. O ISGlobal foi nomeado “Centro de Excele^ncia Severo Ochoa” e e´ membro do sistema CERCA da Generalitat de Catalunya.
Imprensa ISGlobal
Beatriz Fiestas beatriz.fiestas@isglobal.org / +34 669 877 850
Atualmente
A Fundação ”la Caixa” iniciou em 2018 a sua implantação em Portugal, consequência da entrada do BPI no CaixaBank. Em 2019, destinou 20 milhões de euros a projetos sociais, de investigação, educativos e de divulgação cultural e científica. A Fundação ”la Caixa” mantém o seu compromisso de alcançar um investimento de até 50 milhões de euros anuais nos próximos anos, quando todos os seus programas estiverem implementados e a funcionar em pleno.
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