50 Anos do 25 de Abril: Memorial na Praia da Saúde evoca José Afonso
Setúbal, 6 de janeiro (DICI) – A importância de deixar na cidade de Setúbal uma marca física em homenagem ao homem que cantou a revolução de Abril foi destacada hoje pelo presidente da Câmara Municipal, André Martins, na inauguração do Memorial a José Afonso.
A peça de arte pública, da autoria do escultor setubalense Ricardo Crista, integra agora a paisagem da Praia da Saúde, numa evocação à memória de José Afonso, “nome maior da música portuguesa, que cantou a revolução e ajudou a construí-la”, sublinhou André Martins.
Na cerimónia de inauguração da obra, inserida no projeto municipal Venham Mais Vinte e Cincos que comemora os 50 Anos do 25 de Abril, o presidente da autarquia afirmou que o Memorial a José Afonso, “muito mais do que uma homenagem da cidade que Zeca fez sua e que deixou perpetuada nas palavras que cantou”, é “a evidência do profundo sentimento de admiração” que setubalenses e azeitonenses nutrem pelo poeta.
“É a evidência da admiração por um homem inteiro e direito, que cantou utopias por ter a certeza de que o progresso não é senão a realização dessas utopias, desses sonhos que mudam o mundo e as vidas.”
O autarca recordou a ligação de José Afonso à cidade de Setúbal onde “animava com milhentos amigos o Círculo Cultural ou intensas conversas no Café Tamar” e afirmou que o cantor acabou por ser “transformado pelo povo de Setúbal e Azeitão em seu património imaterial”.
A admiração pelo homem que “sempre cantou não para ser alvo de homenagens, mas sim para despertar consciências e dar voz aos que não a tinham quando, com as suas canções, ajudou a combater o fascismo” levou Setúbal a deixar uma marca física na cidade que perpetue o nome e a memória de José Afonso.
A inauguração do Memorial a José Afonso contou com as presenças dos filhos Joana e Pedro Afonso que, juntamente com André Martins e o presidente da Associação José Afonso, Francisco Fanhais, descerraram a placa alusiva à iniciativa.
Pedro Afonso lembrou que Setúbal “teve uma grande importância na vida” de Zeca que escolheu a cidade sadina para viver quando regressou de Moçambique.
“Não foi por acaso que o meu pai escolheu esta cidade. Foi uma decisão baseada na tradição das lutas sociais e populares da cidade.”
O filho de José Afonso acredita que o memorial em homenagem ao pai “faz sentido para apelar à reflexão numa altura em que os valores que Zeca professava parecem cada vez mais distantes”.
Também para Francisco Fanhais a instalação desta obra junto do rio Sado “é um incentivo para que ocupemos este espaço de uma forma que seja um impulso para que cada um de nós se comprometa a transformar o país numa terra em que cada vez mais valha a pena viver”.
O memorial instalado junto do Rio Sado, “enquadramento perfeito para a peça que o escultor setubalense Ricardo Crista concebeu e construiu”, sublinhou o presidente André Martins, é uma obra com um caráter dinâmico que cria a ilusão de estar em constante movimento, consoante a posição em que o observador se encontre.
“Quando projetei esta obra tive em consideração a liberdade e a opressão, divididos em três momentos, designadamente o observador, a obra e o horizonte que está sempre em constante movimento. Pretendi uma peça dinâmica em constante comunicação com o espetador, pois o intuito é que este seja mesmo obrigado a estar em constante movimento para ter diversas leituras do significado da peça”, explicou Ricardo Crista.
Com cinco metros e meio de altura, quatro de largura e um e meio de profundidade, a peça pode ser observada do mar para a serra e vice-versa e tem um efeito transparente quando vista de determinados ângulos, enquanto a partir de outros mostra o retrato de José Afonso.
“As barras horizontais podem sugerir obstáculos, barreiras ou mesmo um enaltecer em ascensão. Todas as interpretações são válidas pois as leituras dependem da perspetiva de cada um. No entanto, uma leitura comum centra-se num ponto, a imagem de Zeca Afonso. Aqui o Zeca observa a cidade, o horizonte, a esperança, a vida e, acima de tudo, a liberdade.”
A inauguração do Memorial a José Afonso é a primeira iniciativa de 2024 do projeto Venham Mais Vinte e Cincos, que, entre 2022 e 2025, comemora os 50 Anos da Revolução dos Cravos, numa organização da Câmara Municipal de Setúbal com as juntas de freguesia e o movimento associativo.
Concertos, espetáculos cénicos, exposições, cinema, poesia, edição e apresentação de livros, evocação de locais, acontecimentos e figuras, tertúlias e conferências, além de atividades específicas para as escolas, integram este vasto programa, com cerca de cem iniciativas que, no seu conjunto, criam novas dinâmicas que enriquecem social, política e culturalmente o concelho.
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