Associativismo é força da democracia e da formação cívica

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O presidente da Câmara Municipal de Setúbal, André Martins, considerou hoje o movimento associativo uma força da democracia e da formação cívica, no congresso do centenário da Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura, Recreio e Desporto.
 
Na abertura do congresso do centenário da confederação (CPCCRD), realizado no Fórum Municipal Luísa Todi, em Setúbal, o autarca agradeceu “o desafio que foi lançado” à Câmara Municipal para que o congresso do centenário, que reuniu 200 delegados de todo o país, fosse realizado em Setúbal.
 
“É um privilégio para nós todos, setubalenses e azeitonenses, termos aqui esta força da democracia, antes e depois do 25 de Abril, esta força da formação cívica, porque as coletividades de cultura, recreio e desporto são isso mesmo, uma força da formação cívica”, disse André Martins.
 
O presidente da Câmara destacou o “contributo que o movimento associativo tem dado para a dinamização e para a democratização da sociedade portuguesa”, além do trabalho realizado nos domínios da cultura, do recreio e do desporto.
 
“Bem-vindos a Setúbal, venham sempre. Setúbal é uma terra de gente afável, que recebe bem e temos aqui uma diversidade grande de interesses para que todos conheçam”, afirmou, depois de desejar que os trabalhos atingissem os objetivos traçados para o congresso e antes de entregar à CPCCRD uma lembrança alusiva ao momento.
 
No encerramento, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, destacou a “força contagiante” do movimento associativo, a “energia das coletividades” e o seu “forte vínculo ao território e à comunidade”.
 
O Chefe de Estado recordou que “há um antes e um depois do 25 de Abril” e salientou que de 1974 para 1975 o número de coletividades subiu de 9000 para 20.000 e que as 30.000 atualmente existentes representam “a maior rede social do país”, com papel particularmente importante na coesão social em épocas de crise, como as dos tempos da Troika, da pandemia e das atuais guerras.
 
“É um trabalho insano. Como alguém já disse, são formiguinhas da economia social”, afirmou, considerando que as coletividades “merecem a gratidão de todos os portugueses”, mas enfrentam vários desafios, como a persistência da pobreza e das desigualdades, que podem resultar em problemas económicos e sociais “muito sérios”, que “atingem o associativismo”.
 
O grande desafio é, segundo Marcelo Rebelo de Sousa, conseguir que as coletividades existentes não morram, que “muitas mais” sejam criadas e que as que tenham problemas consigam resolvê-los.
 
O Presidente da República condecorou depois, com o grau comendador da Ordem do Mérito, o presidente da direção da CPCCRD, João Bernardino, como forma de mostrar o seu apoio ao movimento associativo.
 
Durante a manhã, antes de entregar a André Martins uma placa que reconhece a Câmara Municipal como “Parceiro do Ano”, o presidente da direção da CPCCRD agradeceu à autarquia o apoio ao movimento associativo, recordou o papel do associativismo na resistência à ditadura e deixou uma mensagem “aos poderes constituídos”, num momento em que se comemoram os 50 anos do 25 de Abril.
 
“Cá estamos, e estaremos, para fazer mais e melhor associativismo para termos um melhor país. Estamos a comemorar 100 anos de associativismo, é um grande caminho passado, mas queremos repeti-lo e é para isso que trabalhamos no dia a dia. Olhar para este testemunho de 100 anos, a sua história, a ligação ao nosso povo, aos seus anseios, à resistência e para tudo o que o associativismo tem feito e pode fazer a bem do povo e do país”, disse João Bernardino.
 
Após a abertura, numa conferência sobre “A História do Associativismo Popular no último Século”, o professor e investigador da história contemporânea portuguesa José Pacheco Pereira recordou que em Portugal não há muitas instituições com 100 anos.
 
“São instituições que sobreviveram a um período da história portuguesa muito complicado”, disse, antes de sublinhar a importância do movimento associativo com a afirmação de que os portugueses mais pobres “precisam de se associar para ter acesso à cultura, ao recreio e ao desporto”.
 
Pacheco Pereira recordou que no Século XIX houve a consciência na Europa de que a democracia não garantia, por si só, uma vida “razoavelmente feliz” às pessoas e que a ideia de que a felicidade devia acontecer ainda em vida era “profundamente revolucionária”, porque fez com que se olhasse para os que tinham “menos possibilidades de serem felizes”.
 
Lembrou que na origem do associativismo esteve o mutualismo, como forma de “dar algum sustento às viúvas e às famílias” dos falecidos e de proporcionar a estes “um enterro digno”, e frisou que as coletividades “foram um oásis” nos 48 anos de ditadura em Portugal, por permitirem assistir a um teatro “diferente” e que houvesse recreio e um desporto não apenas de competição.
 
“Além da cultura, desporto e recreio, o movimento associativo permitiu também que as pessoas tivessem algum conhecimento do que se passava no mundo, numa altura em que havia censura”, disse.
 
Com o 25 de Abril e a chegada da democracia houve “um surto no associativismo” em Portugal, mas agora também se verifica uma crise, “principalmente nas coletividades desportivas”, que estão a ser “vítimas da gentrificação, a ser expulsas das suas sedes e a fechar”, pelo que Pacheco Pereira instou o movimento associativo a lutar contra aquele processo de mudança urbana e substituição social nos bairros tradicionais.
 
“Nos vossos 100 anos, vocês têm pela frente um caminho difícil. As coletividades populares têm uma enorme função, mas não estão na moda”, sublinhou, questionando-se sobre a razão da ausência das televisões na sala e sobre como a imprensa vai noticiar o congresso. “Se uma atividade que melhorou a vida de milhares de pessoas não é relevante, duvido que haja muitas coisas relevantes”.

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