Congresso José Afonso homenageia o homem e a sua obra

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Setúbal, 17 de outubro (DICI) – O presidente da Câmara Municipal de Setúbal, André Martins, afirmou hoje que o Congresso Internacional José Afonso, a realizar em 26 e 27 de outubro no Fórum Luísa Todi, homenageia um dos artistas que mais marcou o século XX português.
 
“Estou certo de que esta será uma importante jornada de homenagem, por via da valorização da vida e obra de José Afonso, um dos artistas que mais marcou o século XX português e que tão sistematicamente é esquecido e até desprezado”, disse o autarca na Casa da Cultura, na conferência de imprensa de apresentação do congresso, organizado pela Associação José Afonso e pela Câmara Municipal de Setúbal.
 
Segundo André Martins, “pretende-se que este evento constitua uma oportunidade, até hoje inédita, de amplo cruzamento de vários saberes sobre o percurso de José Afonso, procurando relacionar a investigação académica com outros campos dedicados à preservação e divulgação da memória” do autor de “Grândola, Vila Morena”, uma das senhas da revolução do 25 de Abril, de que este ano se comemoram os 50 anos.
 
“Não basta relembrar o Zeca em Abril, não basta cantarmos a Grândola. O que faz falta é avisar a malta de que José Afonso e aquilo que defendeu e cantou continua bem vivo”, disse, após lembrar que o lema das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril em Setúbal, “Venham Mais Vinte e Cincos”, inspira-se em “Venham Mais Cinco”, uma das suas mais conhecidas canções. “Na verdade, estamos a clamar por mais Abril, tal como o Zeca sempre fez”.
 
O autarca recordou que no início do ano foi dado um “importante contributo para evocar e preservar a memória de José Afonso”, com a instalação de um memorial na Praia da Saúde, feito pelo escultor setubalense Ricardo Crista, e que a exposição Ilustração Portuguesa da Festa da Ilustração de 2024 é dedicada ao cantautor, cujas capas dos discos também vão estar expostas no Museu de Setúbal, no Convento de Jesus.
 
O congresso, com entrada livre, é “mais uma iniciativa que contribui para a valorização da memória e da obra do Zeca”, disse o presidente da Câmara, adiantando que se integra nas celebrações dos 50 anos do 25 de Abril em Setúbal e foi proposto na Comissão de Honra das comemorações, “da qual faz parte um importante conjunto de personalidades muito ligadas à revolução na cidade do Sado, como o Zeca a cantava”.
 
José Afonso é “uma das maiores referências” da cultura contemporânea portuguesa, “cuja obra importa conhecer e divulgar”, sendo “o destaque que lhe é dado nestas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril” justificado com “a profunda ligação de José Afonso à cidade de Setúbal e da cidade e dos setubalenses ao cantautor”, que viveu 20 anos no concelho, onde morreu em 23 de fevereiro de 1987.
 
De acordo com André Martins, o congresso “reúne tanto especialistas dedicados ao estudo das várias facetas da sua obra, como colaboradores e amigos do cantor, em sessões testemunhais”, e aborda “um extenso conjunto de temas, contemplando a intervenção cívica do cantautor antes, durante e depois do período revolucionário de 1974-75, em defesa da liberdade e da democracia”.
 
Estão previstas duas sessões testemunhais, uma sobre a atividade musical de José Afonso, com a participação de Janita Salomé, Francisco Fanhais e Carlos Guerreiro, e outra sobre a ligação de José Afonso à cidade de Setúbal, com a participação de Henrique Guerreiro, Luísa Ramos e Manuela Palma.
 
João Madeira, investigador e membro da comissão organizadora, notou que vai haver 15 comunicações dos mais variados temas, desde os seus tempos em Coimbra até à relação com Setúbal, Paris e a Galiza, da censura à revolução e ao período das décadas de 1970 e 1980, além de duas conferências, uma sobre José Afonso e a Galiza, dada por Antón Mascato, um seu amigo galego, outra de Rui Vieira Nery sobre a sua música.
 
Vai também ser apresentado o livro “Semeador de Palavras – Entrevistas a José Afonso” e ter lugar um concerto com a Vozes da União, Noitibó, Francisco Fanhais, Manuel Freire e Rogério Cardoso Pires, este às 21h30 de 26 de outubro, igualmente no Fórum Luísa Todi e com entrada gratuita.
 
“A Associação José Afonso, que tem a sua sede nacional em Setúbal, tinha a ideia de fazer um congresso há vários anos e isso proporcionou-se agora”, afirmou João Madeira, salientando o suporte científico sobre a vida e a obra do cantautor que é dado por entidades parceiras como o Instituto de História Contemporânea.
 
O programa é “diversificado” e, como avançou, na realidade começa ao fim da tarde de 25 de outubro, sexta-feira, com o “encontro de malta de Setúbal amiga do Zeca”, na Adega dos Garrafões.
 
Também investigador e membro da comissão organizadora, Albérico Afonso recordou que José Afonso chegou a Setúbal em 1967 para dar aulas, mas não chegou a completar o primeiro período por ter sido alvo de “um processo disciplinar sumário em que era acusado de tratar nas suas aulas de questões como o colonialismo”.
 
Albérico Afonso disse que o cantor foi “perseguido e ostracizado pela elite setubalense”, ficou desempregado e passou “momentos muito difíceis”, mas acabou por “reencontrar-se com a Setúbal solidária e a Setúbal popular”, sendo um dos fundadores do Círculo Cultural de Setúbal, que “teve um papel muito importante nos últimos anos do combate à ditadura”.
 
O investigador adiantou ainda que no congresso vai haver “duas ou três intervenções” sobre a “dimensão da intervenção cívica de José Afonso, particularmente em Setúbal”, um tema que é “pouco divulgado”.
 

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