Fórum de Saúde: webinar sobre farmácias comunitárias – balanço

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Setúbal, 8 de julho (DICI) – A importância do papel das farmácias comunitárias na promoção da saúde pública foi destacada no dia 6 à tarde no primeiro de um novo ciclo de debates no âmbito do Fórum de Saúde “Setúbal a Pensar em Si”.
 
No encontro em formato digital, organizado pela Câmara Municipal de Setúbal, o vereador com o pelouro da Saúde, Ricardo Oliveira, lançou o desafio aos convidados para falarem sobre temáticas relacionadas com “O papel das Farmácias Comunitárias na promoção da Saúde da população”.
 
Com moderação de Lucília Pascoal, farmacêutica e representante da ANF – Associação Nacional das Farmácias, cinco oradores partilharam experiências e projetos nos quais estão envolvidos, no âmbito das parcerias estabelecidas entre farmácias, unidades de saúde e autarquias para prevenir doenças e promover o bem-estar.
 
A sessão abriu com a intervenção “O contributo das farmácias no suporte à população”, a cargo de Duarte Santos, farmacêutico e também representante da ANF, que sublinhou “a extraordinária rede de farmácias” existente em Portugal, “uma das redes mais desenvolvidas na Europa e no mundo”.
 
Os números, superiores a países como Alemanha, Finlândia e Dinamarca, apontam para a existência de uma farmácia para cada 3500 habitantes em Portugal e uma média de 3,7 farmacêuticos por cada estabelecimento, que, diariamente, “respondem às expectativas e às necessidades de mais de meio milhão de pessoas”.
 
De acordo com Duarte Santos, uma das apostas no setor da saúde passa pela promoção da multidisciplinaridade e da colaboração interprofissional entre farmácias, unidades de cuidados de saúde primários e entidades hospitalares, bem como a existência, no espaço da própria farmácia, de diferentes profissionais a possibilidade de trabalharem em conjunto.
 
“Hoje em dia nas farmácias comunitárias encontram-se farmacêuticos, nutricionistas, enfermeiros, fisioterapeutas e podologistas.  As farmácias são um ativo ao serviço do país e podem colocar outros profissionais de saúde ao serviço das pessoas. Pode e deve haver cada vez mais colaboração interprofissional.”
 
Neste sentido, a ANF tem procurado estabelecer parcerias para “proporcionar uma melhor resposta às populações”, designadamente com as autarquias, que desempenham “um papel fundamental” tendo em conta que há necessidades locais às quais têm de ser dadas respostas específicas, num contexto de mais proximidade.
 
Um exemplo apontado por Duarte Santos é o Programa Vacinação SNS Local, que contou com a participação do município de Setúbal, no âmbito do qual o Ministério da Saúde disponibilizou parte do contingente de vacinas de gripe para reforçar a capacidade municipal e permitir a administração de vacinas nas farmácias com as mesmas regras dos centros de saúde.
 
“Houve uma resposta extraordinária de alguns municípios e eu gostaria de destacar o pioneirismo de Setúbal, que foi dos primeiros a manifestar disponibilidade para que os setubalenses pudessem beneficiar desta forma rápida e eficiente de vacinação.”
 
O papel das farmácias na luta contra a pandemia de covid-19 também foi destacado por Duarte Santos, designadamente com a realização de 370 mil testes, entre janeiro e junho deste ano, em mais de 740 farmácias, o que contribuiu para “aumentar a capacidade de testagem no país e quebrar cadeias de transmissão”.
 
O webinar prosseguiu com a apresentação “As farmácias em articulação com os cuidados de saúde primários”, por Marta Nazha, médica de medicina geral e familiar da Unidade de Saúde Familiar São Filipe, no Bairro do Viso, que apresentou o projeto de monitorização do doente hipertenso, em curso nesta unidade desde 2018.
 
No âmbito do projeto, que integra uma equipa formada por um médico, um enfermeiro e um farmacêutico, é realizada uma consulta médica por semestre e uma consulta de enfermagem a cada quatro a seis semanas a doentes hipertensos.
 
Os objetivos consistem em fazer o devido acompanhamento, promover a mudança de estilos de vida e a autovigilância e cuidado dos 3839 utentes diagnosticados com hipertensão arterial na Unidade de Saúde Familiar de São Filipe.
 
Marta Nazha sublinha que o papel das farmácias “é muito importante neste contexto da hipertensão arterial, de forma a permitir um diagnóstico mais célere e uma avaliação do grau de hipertensão e do controlo da tensão”, além de contribuírem para “a monitorização do efeito da medicação e para o ensino correto da automedição da tensão arterial”.
 
Subordinadas ao tema “Setúbal: exemplos de ação”, seguiram-se três exposições apresentadas por farmacêuticos do concelho de Setúbal, a começar por Inês Cunha Pinheiro, farmacêutica da Farmácia Cunha Pinheiro, que abordou o tema da “Preparação individualizada de medicação PIM”.
 
De acordo com a especialista, estima-se que o grau de adesão às terapêuticas crónicas seja de 50 por cento, o que significa que “um em cada dois indivíduos sujeitos a terapêutica crónica não toma corretamente a medicação”.
 
Nesse sentido, apontou a necessidade de implementar serviços especializados promotores da adesão à terapêutica, num “desafio que deve contar com o envolvimento de todos os profissionais de saúde”.
 
Tendo em conta que a polimedicação “tem vários riscos que acarretam um aumento de custos em saúde”, Inês Cunha Pinheiro considera que o farmacêutico tem um papel fundamental na promoção da utilização segura do medicamento.
 
Na farmácia Cunha Pinheiro, a especialista prepara, semanalmente, a medicação para 70 idosos, que tomam vários medicamentos diferentes no dia a dia, num serviço que se tem revelado “essencial para a adesão à terapêutica”.
 
Por outro lado, Filipe Rodrigues, farmacêutico da Farmácia Portugal, abordou a experiência do “Luz Verde – Projeto de despensa de medicamentos hospitalares”, desenvolvido entre março e maio do ano passado, e que contou com o envolvimento desta farmácia setubalense.
 
O projeto, organizado em parceria pela Ordem dos Farmacêuticos e pela Ordem dos Médicos, surgiu da necessidade de garantir a continuidade do tratamento dos doentes, tendo em conta as dificuldades no acesso aos serviços hospitalares durante o primeiro confinamento da pandemia de covid-19.
 
Mesmo sendo acompanhados num centro hospitalar num local fora da área de residência, os utentes podiam levantar os medicamentos na farmácia mais perto de sua casa, o que permitiu “reduzir a deslocação aos hospitais e garantir a entrega dos medicamentos na hora certa e em segurança aos doentes”.
 
A Farmácia Portugal prestou este serviço gratuito a cinco doentes durante a operação “Luz Verde” e, mesmo após o projeto ter terminado, continuou a seguir três doentes, um dos quais com uma doença crónica e dois transplantados.
 
“Este foi um dos poucos serviços que não interrompemos durante a pandemia, porque tem um impacte muito significativo nas pessoas que seguimos”, sublinhou Filipe Rodrigues.
 
Por fim, Isabel Tiago, farmacêutica da Farmácia Sália, abordou o tema “Diabetes: Intervenção das Farmácias”, e apresentou a experiência deste estabelecimento no acompanhamento de pessoas que padecem desta doença crónica.
 
A diabetes, que afeta mais de um milhão de pessoas em Portugal, com idades entre os 20 e os 79 anos, “é uma doença preocupante e silenciosa, com complicações crónicas que atingem todo o organismo de forma muito incapacitante e grave”.
 
Por isso, Isabel Tiago destaca que os objetivos das farmácias, designadamente da Farmácia Sália, consistem em “prevenir as complicações, sobretudo a hipoglicémia e a hiperglicemia, ajudar os doentes a controlar a doença e, especialmente, a ganhar qualidade de vida”.
 
A especialista sublinhou que a farmácia “está sempre aberta para que as pessoas entrem e esclareçam todas as dúvidas”, bem como para promover a “educação do diabético para o autocontrolo e vigilância”.
 
O primeiro webinar deste novo ciclo no âmbito do Fórum de Saúde “Setúbal a Pensar em Si” terminou com uma intervenção do vereador Ricardo Oliveira, que falou sobre um novo projeto que a Câmara Municipal de Setúbal está a preparar em parceria com o ACES Arrábida – Agrupamento de Centros de Saúde da Arrábida no âmbito da testagem massiva à covid-19.
 
Com o objetivo de alargar à comunidade a experiência de testagem com testes antigénicos que está a ser feito aos trabalhadores das autarquias do concelho de Setúbal, a Câmara Municipal vai disponibilizar cinco espaços fixos para testagem gratuita e uma unidade móvel, no âmbito de uma parceria com o ACES Arrábida – Agrupamento de Centros de Saúde da Arrábida e a Unidade de Saúde Pública.

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