Apresentação Selecção Caminhos (XXIII)
Ver cinema é abrir os olhos para um mundo novo que se abre à nossa frente. Para que se veja claramente por essa janela, é necessária uma ligação imaginária entre quem vê o filme e as imagens que são projectadas em tela. Essa ligação é fornecida pelo movimento, isto é, pelas imagens cinemáticas que nos fornecem também uma porta.
É preciso ver filmes para se conseguir entrar no mundo imagético do cinema português, e é precisamente isso que anualmente tentamos fazer – levar o maior número de pessoas possíveis a ver cinema produzido em território nacional.
Seleccionar e programar cinema português, no único festival que se dedica exclusivamente ao mesmo, implica um desafio constante para a programação. Seleccionar é estar atento e desperto às movimentações comerciais e não-comerciais dos filmes que são anualmente produzidos, mudando constantemente a nossa perspectiva de ver um programa e um festival de cinema. É tentar criar e recriar fórmulas (sempre imperfeitas) de fazer com que se troque o banco de casa ou do bar pelo de cinema, para que se aceda a esta combinação perfeita criada pelos realizadores portugueses de um mundo fílmico diferente, muitas vezes quase espiritual e expressivo.
É praticamente impossível hoje encontrar uma definição técnica e estética comum e exacta do que é o cinema português, o que nos leva sempre a um mergulho numa diversidade e pluralidade artísticas incomensuráveis. Para grande parte dos realizadores contemporâneos portugueses (com destaque para alguns mais jovens e já com destaque internacional), fazer cinema tem sido uma constante descoberta de novas formas, métodos e técnicas de o realizar, desprendendo-se e movendo-se em frente e não para junto de cânones do passado, daquilo que já foi feito e refeito.
Os próprios documentários nacionais não se centram num realismo em sentido estrito como defendia Rossellini (“As coisas estão ali, para quê manipulá-las?”), mas há uma introdução de uma estética e envolvimento muito pessoais que tornam o realizador num verdadeiro Autor, aquele que expande e conquista mentes. As ficções, sejam elas de pequena ou grande produção, continuam a ser sempre uma surpresa pelos seus conceitos, quase que funcionando por vezes como cinema de consciência e de alerta.
Há, porém, algo que merece referência na apresentação desta programação para que seja compreendido melhor o seu conceito. Em Portugal começa a existir uma abertura do cinema de, como sempre, seleccionar o melhor de ?“todo o cinema português”, para complementarmos aquilo que já se encontra disponível, mas também enaltecer as obras que de outra forma não teriam uma projecção pública e mediática que um festival como os Caminhos fornece. As sessões competitivas do festival Caminhos do Cinema Português são, assim, desenhadas de forma consciente a esta realidadese deixar levar por todas estas formas plurais de abordar cinema.
Reiteramos que não existem fórmulas perfeitas de programar cinema, mas parece-nos que este é o caminho mais justo tanto para o espectador (que espera algo que ainda não viu) como para o realizador (que vê a sua obra mediatizada e de fácil acesso a todos os interessados). É esta ponte que os Caminhos querem continuar a alicerçar – juntar os públicos com o(s) nosso(s) cinema(s).
Esperamos que a programação suscite interesse a todos os amantes do cinema em geral e do português em particular. Que todos possamos celebrar e viver esta magia emanada por esta festa dedicada ao melhor de todo o cinema português!Tags: