“Cem Anos de Pasolini” na Casa do Cinema de Coimbra
Pier Paolo Pasolini é uma das figuras incontornáveis da história do cinema. Além de realizador, foi argumentista, poeta, pintor e encenador, sendo os seus filmes obras de arte totais onde a reflexão sobre a condição do homem acompanha a mise-en-scène.
A Casa do Cinema de Coimbra não poderia deixar em branco a celebração dos Cem Anos (do nascimento) de Pasolini, pelo que em conjunto Caminhos do Cinema Português, Fila K e o Centro de Estudos Cinematográficos, apresentam um grande ciclo com algumas da obras mais marcantes do cineasta italiano.
As dez sessões do ciclo vão decorrer entre 30 de abril a 2 de julho, sendo que os associados das entidades residentes na Casa do Cinema de Coimbra terão acesso a cada sessão por 2€ .
Pier Paolo Pasolini foi uma figura bastante mediática na Itália do pós-guerra devido à sua personalidade crítica e inconformada. Entrou no mundo do cinema na escrita dos diálogos de “As Noites de Cabíria”, de Federico Fellini, e é em 1961 que realiza o seu primeiro filme, “Accattone”. A sua cinematografia caracteriza-se pela sua abordagem à violência e ao erotismo, e pela inspiração que encontrou nos distritos pobres de Roma, na decadência e desigualdade da sociedade.
O programa para este ciclo, que inclui seis cópias restauradas, apresenta o seguinte alinhamento:
30 abril às 15h00 — ACCATTONE (1961)*
Olhar dolorosamente humano que se alonga pela tragédia, pela indigência, pela escassez. Vittorio (Franco Citti), conhecido como Accattone (calão para “pequeno meliante”), habita nos subúrbios de Roma e leva uma vida marcada pelo ócio, como chulo, enquanto explora a namorada Maddalena (Silvana Corsini) e passa o tempo com os seus companheiros. Mas quando Maddalena é maltratada por elementos de um bando rival, por ter denunciado um dos seus, acaba na prisão e Accattone fica sem meio de subsistência. Logo encontra uma substituta na inocente Stella (Franca Pasut), que tenta arrastar para a vida da prostituição. Mas nem tudo vai correr como Accattone planeia.
*Apresentado por Giorgio Pozzessere
4 maio às 21h30 — DECAMERON (1971)
Decameron é o primeiro filme da “trilogia da vida” do realizador Pier Paolo Pasolini. O filme tem por base os contos trágico-eróticos de Bocaccio, e é uma mistura de muitos dos temas predilectos do cineasta. O próprio Pasolini interpreta um pintor de frescos a quem é dito que o seu trabalho final nunca será tão satisfatório como o seu sonho desse trabalho.
A Decameron, seguem-se na trilogia Os Contos de Canterbury (1972) e As Mil e Uma Noites (1974).
11 maio às 21h30 — OS CONTOS DE CANTERBURY (1972)
Os Contos de Canterbury é baseado nos poemas eróticos de Geoffrey Chaucer do século XIV. Mergulhando com prazer em algumas das mais perversas e lascivas histórias, Pasolini celebra de forma ardente quase toda a forma imaginável do acto sexual com um humor rico, rude e visualmente mágico. Para completar, Pasolini faz uma magnífica representação do inferno com claras influências da pintura de Hieronymus Bosch.
14 maio às 15h00 — MAMMA ROMA (1962)*
Um retrato neorrealista de martírio maternal que marca uma transição na filmografia inicial do subversivo Pasolini.
Segundo filme de Pasolini, com argumento original da sua autoria e uma das primeiras obras do cineasta a retratar os marginais da sociedade italiana. A partir da história melodramática de uma prostituta de Roma que tenta dar uma vida digna ao seu filho, Pasolini constrói um filme com uma extraordinária dimensão poética e social, coroado por uma das mais exímias performances de Anna Magnani.
*Apresentado por Susana Lobo.
17 maio às 21h30 — MEDEIA (1969)* (20º Aniversário Fila K)
Tendo partido em busca do Velo de Ouro, Jasão foge com Medeia, princesa da Cólquida. Alguns anos mais tarde, Medeia, já mãe de três filhos, descobre que Jasão a trai. Esta recorre então aos seus dotes de feiticeira para causar a morte da sua rival e, em seguida, mata os próprios filhos.
*Apresentado por Abílio Hernandez
18 maio às 21h30 — AS MIL E UMA NOITES (1974)
Neste filme inspirado nos contos antigos, eróticos e misteriosos do Médio Oriente, a história principal fala de um jovem inocente que se apaixona por uma escrava que o escolheu para seu dono. Depois do seu erro imprudente ter causado a sua separação, ele viaja à procura dela. Outros viajantes que contam as suas experiências trágicas e românticas, falam de histórias como a de um jovem que fica extasiado por uma mulher misteriosa no dia do seu casamento e de um homem que está determinado a libertar uma mulher do demónio.
25 maio às 21h30 — SALÓ OU OS 120 DIAS DE SODOMA (1975)
Em 1944, no norte de Itália, a República de Salò encontrava-se sob o domínio nazi. Quatro homens poderosos levam à força dezasseis jovens de ambos os sexos para um palácio isolado, onde os submetem a uma série de humilhações, abusos sexuais e torturas, até à morte.
28 maio 15h00 — O EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS (1964)*
Drama bíblico inovadoramente naturalista e despojado, com a vida de Cristo recontada a partir do Evangelho segundo Mateus.
As parábolas, os primeiros discípulos, a revolta, a determinação, os milagres, a intolerância, a solidão e a impaciência. Assim Jesus conseguiu uma legião de seguidores e inimigos, segundo o Evangelho de São Mateus. Nesta obra maior, o realizador italiano Pier Paolo Pasolini apresenta-nos um Cristo completamente distinto do estilo ‘épico’ com que o cinema o vinha caracterizando; um Cristo solar que se faz acompanhar da música de Bach, enquanto a Virgem é interpretada pela mãe do próprio autor.
*Apresentado por Ana Beatriz Andrade
11 junho às 15h00 — PASSARINHOS E PASSARÕES (1966)*
Um conto alegórico estreado em Cannes e no qual brilha o lendário Totò com um desempenho memorável. Enquanto se deslocam pela estrada fora e através do tempo, com uma incursão à época de S. Francisco de Assis, Totò e o seu filho (Ninetto Davoli) encontram um corvo falante (e intelectual de esquerda) que os acompanha na digressão e vai comentando as peripécias que se sucedem de uma forma que o torna insuportável, pelo que os nossos heróis serão forçados a tomar uma medida drástica.
*Apresentado por Martina Matozzi
25 junho às 15h00 — REI ÉDIPO (1967)*
Pasolini adapta Sófocles transformando “Edipo Re” numa “autobiografia”: “Conto a história do meu próprio complexo de Édipo. Conto a minha vida mistificada, tornada épica pela lenda de Édipo.” Tempos e espaços diversos, “materiais colhidos em diversos sectores da cultura”: eis os ingredientes utilizados por Pasolini nesta fascinante interpretação mitológica, radicalmente pessoal e “personalizada”.
*Apresentado por Osvaldo Silvestre
9 julho às 15:00 — COMÍCIOS DE AMOR (1964)*
Pasolini veste o uniforme de cineasta de guerrilha, saindo à rua de microfone na mão, para falar de sexo com os seus compatriotas. Profundamente interessado pelo tempo em que vivia, Pasolini deu com “Comizi d’amore” um exemplo notável do que se chamava na época “cinema-verdade”. Trata-se de um inquérito sobre a sexualidade, que levou Pasolini de norte ao sul de Itália com o propósito de interrogar intelectuais, operários, camponeses, soldados, burgueses, jovens, velhos, crianças, homens e mulheres, num filme realizado no limiar da grande revolução sexual dos anos 60.
Objecto documental inusitado de um criador eternamente apostado em desafiar os limites e convenções do medium cinematográfico.
*Apresentado por Gonçalo Cholant
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Toda a informação em caminhos.info/casa
Bilhetes Pontuais:
Normal — 5€
Reduzidos — 4€
Sócios da CCP/AACC, Fila K e CEC — 2€
Passe de 10 Sessões:
Normal — 30€
Reduzido — 25€
A Casa do Cinema de Coimbra abre a sua bilheteira 30 minutos antes de cada sessão e situa-se no piso 0 das Galerias Avenida na Av. Sá da Bandeira.
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