ANABELA DUARTE assobios, gritos e fonemas dançantes

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(uma encomenda do CCB, inserida no ciclo A Voz Humana)
 
CCB . 3 e 4 junho . sábado e domingo . 19h00 . Pequeno Auditório

Programa
Kurt Schwitters (1887-1948) Ursonate
Cathy Berberian (1925-1983) Stripsody
George Aperghis (n. 1945) Récitations 8
 
Poesia experimental portuguesa:
Ana Hatherly (1929-2015) No Grande Espaço é Sempre Noite
Salette Tavares (1922-1994) Arre Arre arre
Liberto Cruz (n. 1935) Velegrama
E. M. de Melo e Castro (1932-2020) Prática da Crítica
 
Erwin Schulhoff (1894-1942) Sonata Erotica
Erwin Schulhoff Symphonia Germanica
 
Poesia Letrista:
Isidore Isou (1925-2007) Cris Pour 5.000.000 de Juifs Égorgés
François Dufrêne (1930-1982) J’interrogue et j’invective
G. P. Broutin (1948) Étude 1
Jackson Mac Low (1922-2004) Phoneme Dance
Anthony Braxton (n. 1945) Falling River
 
Cantora e investigadora Anabela Duarte
Ator e performer Nuno Marques Pinto aka NU NO
Meio-soprano Susana Teixeira
Cantora e compositora Mariana Dionísio
Percussão Madalena Rato
Artista visual Nuno Mika
 
 
O programa destaca a arte vocal e a composição contemporâneas, independentemente do espaço geográfico ou nacionalidade dos compositores e obras, colocando a tónica na poesia experimental portuguesa e na avant-garde histórica, sobretudo o Dadaísmo e o Letrismo, e consequentes incursões na desconstrução da linguagem. Também a questão da incorporação (embodiment), tão cara aos Letristas com a sua poesia física, músico-poesia e sons corporais, perpassa todo o programa.
 
Nesse sentido, a Ursonate ou Sonate in Urlauten (Sonata de Sons Primitivos) inaugura a VOZ (e o concerto) como um novo paradigma, apanágio de uma nova conceção musical e poética, em todo o seu esplendor performativo. Traduz, com efeito, aquela inventividade que é sobretudo um apelo muito contemporâneo à criação em todas as suas formas.
 
O título assobios, gritos e fonemas dançantes pretende explorar as vanguardas das vanguardas, parafraseando Maurice Lemaître, pilar do Letrismo, no que concerne à relação entre voz, música e poesia, sugerindo um repertório avant-garde diversificado, mas coeso e de combate, bem como a forma como ele é apresentado. Neste caso, com o contributo igualmente transformador das artes visuais e digitais. Nuno Mika, artista multidisciplinar, apresenta uma série de instalações interativas, em que o som da voz humana é conceptualizado como matéria física e tridimensional. A partir de tal sistema intensifica a dinâmica e a pluralidade dos estímulos audiovisuais em tempo real: a tecnologia interroga a voz e a voz o poema.
 
Este repertório e o programa apresentado constituem uma novidade sui generis no contexto português, de tal forma que a maior parte das peças são uma estreia absoluta no nosso território. No final, preparámos um coletivo de quatro vozes para a interpretação de Phoneme Dance, de Jackson Mac Low, poeta e compositor, e Falling River, de Anthony Braxton, compositor oriundo da ala experimental do jazz. A voz humana e suas infinitas possibilidades estarão aqui bem representadas pelo ator e performer Nuno Marques Pinto (aka Nu No), por Susana Teixeira, meio-soprano, por Mariana Dionísio, cantora e compositora, e por Anabela Duarte, soprano.
Anabela Duarte

Anabela Duarte
Cantora e investigadora
Desenvolve trabalho multidisciplinar na área da música, literatura e vanguardas, cruzando diferentes estéticas e poéticas. Estudou canto com Maria João Serrão, Joana Silva, Liliana Bizineche, Elsa Saque, Paolo Washington, Rolando Panerai, Giovanna Cannetti, e realizou workshops de ópera e concerto com Ileana Cotrubas, Magda Olivero e Elena Dumitresku-Nentwig. Estudou análise e técnicas de composição com Pedro Rocha, Christopher Bochmann e Álvaro Salazar. Nos anos 1980 foi membro do grupo pop-rock Mler ife Dada. Criou os projetos Digital Quartet, Machine Lyrique, Um Outro Lorca, Goyescas, La Luna, Vox Express, Os Tocadores Exultantes, Bal Cabaret, entre outros. Enquanto escritora criativa e de não-ficção publicou para as editoras Brill/Rodopi, Routledge, Palgrave Macmillan, Music & Politics, Edgar Alan Poe Review, etc. Recebeu bolsas da Gulbenkian, FCT, GDA e Universidade de Göttingen, Dept. de Musicologia.
https://anabeladuarte.info
 
Nuno Marques Pinto aka Nu No
Ator e performer, desenvolve um trabalho que assenta numa reflexão sobre a voz e a linguagem. A partir da desconstrução da linguagem explora os diferentes mecanismos que a língua encerra (gaguez, afasia, glossolalia, grito), transformando o ato da fala em acontecimento, em situação, em corpo falante. Interpretou peças de Samuel Beckett, Gil Vicente, Ionesco, Alfred Jarry, Antonin Artaud, entre outros, e participou em vários filmes e produções internacionais. Editou quatro discos de poesia experimental, sendo o último Rádio Afónica, 2022. Destaca as performances Voltaire ou a Máquina de Proteu, nos 100 anos de celebração do movimento Dada, 2022, Cabaret Dada, 2021, e URRO (António Aragão), 2022. Atualmente, trabalha peças sonoras para rádio (Cashmere Radio Berlin, Radio Corax, em Halle, Alemanha, Radia Network, Radio Onda Rossa, Itália, Radio Vassiviére, França).
 
Susana Teixeira
Meio-soprano
Completou o curso superior de Canto no Conservatório Nacional e a licenciatura em Canto na Escola Superior de Música de Lisboa. Foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian, na Escola Superior de Canto de Madrid. Trabalhou com Max von Egmont, Kurt Equiluz, Paul Esswood, Ludmilla Andrews e Norman White, Liliana Bizineche, Gundula Janovitz, Nico Castel, Jill Feldman, Ileana Cotrubas, Lorraine Nubar, Dalton Baldwin e Richard Miller, Rudolf Knoll e Enza Ferrara. Participou em numerosas produções operáticas e concertos. Em 2022, estreou a ópera Não há Machado que Corte, de Luís Soldado, e cantou a ópera O Doido e a Morte, de Alexandre Delgado. Atualmente, dedica-se à ópera e à música contemporânea. Desde 2006, é cantora residente do Grupo de Música Contemporânea de Lisboa.

Mariana Dionísio
Cantora e compositora
O seu percurso oscila entre a improvisação livre, o jazz e a música contemporânea. Estudou piano na Escola de Música do Conservatório Nacional, e prosseguiu os seus estudos na Escola Superior de Música de Lisboa, em Jazz.  Atualmente, dedica-se sobretudo a projetos que visam pensar a voz em contextos menos usuais, questionando o seu papel na tradição musical e explorando o seu potencial técnico, tímbrico e poético. Trabalha com frequência projetos em duo: LUMP, com o trompetista João Almeida, TRACAPANGÃ, com o baterista João Pereira, no projeto REQUIEM, com o guitarrista João Carreiro, o duo de vozes com Leonor Arnaut e música contemporânea com a flautista Clara Saleiro. Atualmente, dirige um ensemble vocal para o qual escreve e desenvolve técnicas de improvisação.
 

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