Oratória de São João Baptista

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Alessandro Stradella (1643-1682)
AVRES SERVA
Direção Nuno Oliveira
 
CCB . 29 maio . domingo . 16h00 . Pequeno Auditório
AVRES SERVA
 
Soprano I [Salomé] Mariana Castello-Branco
Soprano II [Herodias] Ana Paula Russo
Contratenor [São João Baptista] Clint van der Linde
Tenor [Conselheiro, Discípulo] Rodrigo Carreto
Baixo [Herodes] João Fernandes
 
[Coro de Discípulos a 3, 4 e 5 vozes]
 
Violino Simone Pirri [concertino], André David Castro, Francisco Henriques, Raquel Cravino
Viola Isabel Franenberg, Nuno Mendes
Baixo de Violino [pequeno] Pedro Massarrão
Baixo de Violino [grande] Renato Criscuolo
Arquilaúde Francesco Olivero
Tiorba Jérémy Nastasi
Harpa Flora Papadopoulos
Cravos & Órgão Nicola Lamon, Nuno Oliveira
 
Direção Nuno Oliveira
 
Alessandro Stradella ficou famoso por ter sido assassinado e não tanto pela sua música. Da sua obra constam cerca de 200 cantatas, música sacra e instrumental.
San Giovanni Battista, uma obra composta para a igreja de San Giovanni dei Fiorentini no ano de 1675, e a mais conhecida das suas oratórias, foi ainda apresentada em Modena (1688), Florença (1693), e novamente em Roma (1698). Relata a história da morte de João Baptista nas mãos do carrasco do rei Herodes, conforme solicitado por Salomé, que enfeitiça o monarca com a sua dança sedutora, tendo esta pedido a cabeça do profeta em troca.
Este conto envolvente, mas trágico, deu-lhe a oportunidade  de criar uma obra poderosa e intrigante, de música altamente dramática. A presença de 5 vozes solistas (2 sopranos, contralto, tenor e baixo) que também cantavam os coros era prática comum neste tipo de oratória. Também a orquestra em Stradella tinha um tratamento muito próprio, e que contribuiu para o desenvolvimento da tradição barroca italiana com a sua divisão em dois grupos: o concertino, um pequeno grupo, e o ripieno, um grupo maior. Este layout instrumental resulta em contrastes marcantes e outros efeitos dinâmicos, claramente exemplificados na ária de Herodes Tuonerà fra mille turbini, na qual a sua primeira parte é acompanhada pelo ripieno e   a segunda parte pelo concertino. A obra contém passagens complexas e exigentes em geral, atribuídas particularmente às personagens pagãs. Como ela não pode, neste contexto, realizar uma dança que tanto enfeitiça Herodes, Salomé resolve encantar o tirano com a sua voz. O recitativo Deh, che più tardi, seguido da ária Queste lagrime e sospiri, envolve uma série de passagens de coloratura e cromáticas que arrastam o ouvinte para um labirinto de mudanças de tonalidade inesperadas, cativando-o numa espécie de sedução auditiva. Salomé atinge assim o estatuto de anti-heroína, uma imagem espelhada e distorcida de protagonistas femininas em oratórias, e que mais frequentemente sofrem os infortúnios de outras heroínas bíblicas com as suas personalidades fortes, corajosamente ousadas, mas também sedutoras. Justapostos com a exuberância vocal de Herodes e Salomé, temos o estilo vocal sóbrio e digno de João Baptista. Na primeira apresentação, em 1675, o papel foi assumido pelo famoso castrato Giovanni Francesco Grossi, conhecido como Siface. Renomado intérprete das óperas de Cavalli, Pasquini e, mais tarde, de Scarlatti, ele poderia muito bem esperar que Stradella lhe apresentasse uma parte vocal com características extravagantes. Em vez disso, o compositor concentrou-se na nobreza e no seu pathos, qualidades vocais plenamente exploradas na primeira parte da ária Io per me non cangerei, em que João Baptista, aprisionado por Herodes e sentindo que a morte se aproxima, insiste que não trocaria a sua condição actual pela sua antiga felicidade. Os violinos acabam por se entrelaçar com a linha vocal enrolando-se em espirais, sugerindo uma imagem dos laços que o unem. A mesma impressão de serenidade predomina na sua ária Soffin pur rabbiosi fremiti contra a fúria da tempestade, uma metáfora para as dificuldades da vida, com a luz da fé irrompendo triunfante. Aliado ao total domínio do contraponto que garante uma extraordinária interacção entre as partes vocais e instrumentais, o compositor destaca-se de entre os seus contemporâneos como um dramaturgo literário e musical de primeira ordem.
Até à data não dispomos de informação acerca de uma interpretação completa desta oratória em território português.

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