QUE PERSPETIVAS TRAZ O “T-TIP” ÀS EXPORTAÇÕES PORTUGUESAS PARA OS ESTADOS UNIDOS?
No início de 2013, os Estados Unidos (EUA) e a União Europeia (UE) anunciaram o início das negociações para um acordo comercial de grande escala, o Transatlantic Trade and Investment Partnership (T-TIP). As negociações começaram em julho de 2013, e já contam doze rounds negociais. Do lado europeu, a Comissão espera chegar a um acordo ainda durante este ano, para posteriormente submeter à ratificação do Conselho e do Parlamento europeu, e ser depois aprovado pelos Governos e/ou Parlamentos nacionais.
O lançamento dessa iniciativa pretende alcançar “um amplo acordo bilateral, que trate os temas relacionados com comércio e investimentos, e contribua para o desenvolvimento de regras que assegurem benefícios mútuos”. Na essência, o TTIP pretende dar consistência e harmonizar a principal relação económica mundial, dos Estados Unidos com a Europa, que cada dia regista uma troca mútua de bens e serviços de 2 mil milhões de euros.
O T-TIP definiu como linhas mestras três áreas de atuação: a abertura recíproca dos mercados; a modernização das regras comerciais, e a melhoria e compatibilidade de regimes regulatórios. Para além disto, a negociação procura desenhar um acordo capaz de “evoluir com o tempo”, facilitando o aprofundamento e integração económica futura dos dois blocos.
O T-TIP representará o mais importante acordo comercial alguma vez firmado a nível global, incidindo sobre cerca de metade do PIB mundial e sobre 40% das trocas comerciais e pretende criar a maior zona de comércio livre do globo.
O acordo pretende ser uma das soluções para “estimular o crescimento e criar empregos”, na Europa e nos EUA, eliminando ou reduzindo as barreiras aduaneiras e não aduaneiras (NTB’s), incidentes sobre uma vasta gama de setores e facilitando a compra e venda de bens e serviços por empresas dos dois lados do Atlântico. Consequentemente, o objetivo não-declarado é também mitigar a emergência do bloco asiático, liderado pela China. Em termos de metas, pretende-se que o T-TIP incremente o PIB europeu em 120 mil milhões de euros por ano (e o PIB americano em 90 mil milhões) estimando-se que, nos próximos 15 anos, venha a provocar um aumento médio anual dos rendimentos de 545 euros em cada agregado familiar europeu.
O Impacto para Portugal
No campo das vantagens líquidas para Portugal, segundo o estudo encomendado pela Fundação Luso Americana de Desenvolvimento (FLAD) ao Centre for Economy Policy de Londres (Quantifying the Impact of a Transatlantic Trade and Investment Partnership (T-TIP) Agreement on Portugal, 2014) num cenário de execução plena, o T-TIP transformará Portugal num dos estados-membro que mais virão a ser beneficiados pelo Tratado, podendo provocar um acréscimo de 0,57% a 0,76% no PIB nacional. Segundo o estudo, Portugal irá beneficiar das reduções tarifárias mais cedo do que o resto da UE no seu conjunto, e o impacto ocorrerá em maior grau. Este cenário tem em conta que as exportações portuguesas estão concentradas em setores que beneficiarão, de forma imediata, da eliminação de direitos de importação, como os têxteis e vestuário, que representam 15,5% das nossas exportações para os EUA (e 2,4% das exportações da UE) e estão sujeitos a direitos aduaneiros de 8,8%. E mais ainda, o setor do calçado, onde as tarifas para os EUA são particularmente elevadas.
O estudo já citado considera dois cenários, um moderado e outro ambicioso. No cenário mais ambicioso, o impacto estimado sobre Portugal a curto prazo, será de 0,66% do PIB, ou seja, 1.115 milhões de euros, dos quais 930 milhões diretamente dum aumento das exportações. No longo prazo (ano 2030), o impacto poderá variar entre 963 e 1.284 milhões de euros.
Já sobre o impacto no emprego, os cálculos do CEPR apontam para a criação de 40.500 postos de trabalho em Portugal numa fase inicial (5 anos) decorrentes da dinâmica económica trazida pelo acordo, e consequente aumento das exportações E apontam ainda para a criação de mais 23 mil empregos a longo prazo (2030). Um outro estudo da Bertelsmann Foundation, também refere que o T-TIP Portugal poderá criar até 42.521 empregos, no cenário de maior liberalização de barreiras não tarifárias (NTB’s) decorrentes do acordo com os Estados Unidos.
O Embaixador Americano em Lisboa, Robert Sherman, em entrevista concedida à revista “PortugalGlobal, em julho de 2015 afirmava: “Eu considero que o T-TIP será uma importante ferramenta para um crescimento continuado das exportações que, como disse no início, será essencial para a sustentabilidade da recuperação económica (portuguesa).” E mais adiante acrescenta: “Infelizmente, os americanos não conhecem os produtos portugueses. Esse é um problema que precisa de ser resolvido. O que aconteceu em 2014, com os vinhos portugueses a ganhar três das cinco medalhas para os melhores vinhos do mundo, prémios atribuídos pelo Wine Spectator, ajuda a passar a palavra de que vale a pena experimentar a qualidade dos produtos portugueses. Como já afirmei, os sapatos, têxteis, queijos são produtos que também vale a pena experimentar. Não é que os americanos conheçam os produtos portugueses e não os comprem. (O problema é que) os americanos não os conhecem, porque se os conhecessem compravam-nos.”
Portugal e as Empresas Portuguesas não podem, por isso, perder a oportunidade, talvez irrepetível, que se abrirá nos próximos anos no mercado norte-americano, e por isso é absolutamente necessária uma atuação junto das PME’s portuguesas, para que se posicionem comercialmente e se estabeleçam como fornecedoras da nova Economia Americana.
Neste contexto, a AEP-Associação Empresarial de Portugal decidiu lançar um projeto denominado “NEXT CHALLENGE: USA”, que tem como objetivo ir ao encontro dos novos paradigmas e oportunidades que se abrirão para as empresas nacionais no mercado dos Estados Unidos. O projeto abrirá novos horizontes na preparação e acesso das Empresas aos canais de Mercado, reforçando a presença das PME’s portuguesas e os volumes de exportação para os EUA.
O projeto, que será lançado no Porto, no próximo dia 3 de Maio, conta com os apoios do Compete, Aicep, da Embaixada Americana e da FLAD, que estarão presentes no seminário de lançamento.
Durante um ano e meio, virão a Portugal vários Consultores norte americanos para, em conjunto com a AEP-Associação Empresarial de Portugal, treinar e preparar as empresas portuguesas para a conquista dos Estados Unidos. Esta iniciativa conta ainda com o apoio do Portugal 2020, através do COMPETE-Ações Coletivas.
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