Unexpected Guests, de Deborah Stratman, na Solar
Várias portas, por onde entram alguns convidados inesperados. Forasteiros que provocam reações, sentimentos. Destes convidados, a câmara é o mais comum. A câmara pela mão de Deborah Stratman. A Solar – Galeria de Arte Cinemática, no âmbito da parceria com o Curtas Vila do Conde – Festival Internacional de Cinema, inaugura a 8 de julho uma exposição dedicada à cineasta e artista americana, apresentando o seu trabalho num conceito expositivo original, que inclui uma obra inédita.
O trabalho de Deborah Stratman escapa-se a rótulos fáceis. Cruzando vários tipos de media – da imagem em movimento à fotografia, escultura, desenho ou instalação – a sua obra pode ser encontrada tanto na seleção oficial dos festivais de Roterdão ou Sundance, como nas salas de importantes galerias e museus, como o MoMA ou o Centro Pompidou. Independentemente do output escolhido, o trabalho da cineasta e artista americana ocupa-se, sobretudo, da capacidade de questionar aquilo que é subjacente às coisas mundanas, às rotinas e aos comportamentos.
As suas obras crescem a partir de um fascínio variado por dolinas, aves de rapina, ortópteros (insetos musicais), cometas, placas tectónicas, acústica, mineralogia e eletromagnetismo.
Explorando a história, os usos, as mitologias e os padrões presentes em diferentes tipos de paisagem, o seu trabalho aponta os relacionamentos entre os ambientes físicos e as lutas de poder e de controlo que os humanos se travam no território, questionando narrativas históricas elementares sobre fé, liberdade, expansionismo ou paranormal.
Mais recentemente, Stratman tem-se focado nas narrativas sobre evolução e extinção, do ponto de vista das rochas e de vários outros futuros. A geo-biosfera é apresentada como um lugar de possibilidade evolutiva, onde os humanos desaparecem mas a vida perdura.
“Quero trabalhar com assuntos que me resistem, ser atormentada por ideias, estar disposta a arriscar por elas, movida por elas. É isso que me alenta”, palavras de Deborah Stratman, que diz ambicionar, sem depender da linguagem, um cinema intelectual: “Quero que o meu trabalho questione a sua própria função social enquanto permanece esteticamente sedutor. Faço cinema pelo prazer de criar um universo temporal”.
A escolha do foco sobre Deborah Stratman cumpre com um dos principais desígnios do trabalho de programação da Solar e que se estende ao Curtas: por um lado, o de fazer a ponte entre os territórios dos Cinema e das Artes Visuais e, por outro, o de potenciar sinergias entre os dois projetos, revelando aspetos menos conhecidos da obra de artistas/cineastas de referência e de maior importância no panorama internacional.
O programa paralelo inclui, de 8 a 16 de julho, durante o 31.º Curtas, o ciclo InFocus, que apresenta uma seleção da sua obra cinematográfica; uma Carta Branca, no âmbito da qual a artista apresenta obras que influenciaram o seu trabalho; e a masterclass Radical Listening, onde explora o potencial do som e o áudio como motor e criador de espaço.
Presença assídua nas seleções do Curtas Vila do Conde — nove dos seus filmes integraram secções de competição, tendo conquistado por duas vezes, em 2003 (In Order not to be Here) e 2014 (Hacked Circuit), o Prémio da Competição Experimental — esta exposição celebra a relação de anos com a artista.
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“Trabalho com cinema, vídeo, som, escultura, fotografia, desenho e imprensa. Interessam-me os sistemas latentes de controlo e as formas como as nossas vidas são inadvertidamente moldadas por eles. Com o meu trabalho tenho vindo a explorar aquilo de que temos medo, as formas como somos policiados pela arquitetura e como detalhes mundanos traem a convenção e, portanto, a autoridade. Entendo que, de alguma forma, precisamos de governantes para viver ou nunca seríamos capazes de gerir as nossas vidas. Mas o que me inspira são os momentos em que nos libertamos desses vários sistemas de controlo. Como quando alguém cai e, ao cair, interrompe momentaneamente a ordem das coisas.” — Deborah Stratman
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Deborah Stratman expôs internacionalmente no MoMA (Nova Iorque), Centre Pompidou (Paris), Hammer Museum (Los Angels), Witte de With (Roterdão), PS1 (Nova Iorque), Tabakalera (San Sebastian), Austrian Film Museum (Viena), Yerba Buena Center (São Francisco), MCA (Chicago) ou Whitney Biennial (Nova Iorque), e realizou projetos específicos para locais como Center for Land Use Interpretation, Temporary Services, Hallwalls, Mercer Union e Ballroom Marfa. Os filmes de Stratman têm sido amplamente apresentados em festivais e conferências, incluindo Sundance, Viennale, Berlinale, CPH:DOX, Oberhausen, True/False, TIFF, Locarno, Roterdão, Flaherty e Docs Kingdom. Recebeu bolsas Fulbright, Guggenheim e USA Collins Fellowships; um Alpert Award, o Sundance Art of Nonfiction Award e apoios da Creative Capital, Graham Foundation, Harpo Foundation e Wexner Center for the Arts. Vive em Chicago, onde leciona na Universidade de Illinois.
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Unexpected Guests
Deborah Stratman
· Exposição | 8 JUL —2 SET 2023
· Inauguração | Sáb. 08 JUL, 18:00
· Visita guiada | Ter. 11 JUL, 16:00
Horário:
8—16 JUL | 14:00 – 22:00
17 JUL — 2 SET | Seg. a Sáb., 14:00 – 18:30
Entrada gratuita
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PROGRAMA PARALELO
In Focus | Shorts 1 — Dom. 9 JUL, 21:15
In Focus | Shorts 2 — Seg. 10 JUL, 19:30
In Focus | Shorts 3 — Qui. 13 JUL, 21:15
Carta Branca | Influential Shorts — Sex. 14 JUL, 22:45
Teatro Municipal de Vila do Conde, Sala 2
Visita Guiada c/ Deborah Stratman — Ter. 11 JUL, 16:00
Carta Branca | Wanda, Barbara Loden — Ter. 11 JUL, 21:45
Carta Branca | Born in Flames, Lizzie Borden — Qua. 12 JUL, 21:45
Solar – Cinema ao Ar Livre
Masterclass Deborah Stratman — Qui. 13 JUL, 16:30
Teatro Municipal de Vila do Conde, 3º Piso
(Inscrição obrigatória: solar@curtas.pt)
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