À descoberta dos talheres do Titanic com o Exploratório
Talheres. Quem diria que um conjunto de talheres pode fazer a ligação direta de uma das grandes tragédias marítimas do século XX a Portugal, particularmente às cidades de Ílhavo, Figueira da Foz e Coimbra? A presença da exposição “Titanic – A Reconstrução” no Exploratório – que ainda pode ser visitada este fim de semana – fez renascer uma história que promete outros capítulos para breve.
Reza a história que na primavera de 1912, um grupo de pescadores a bordo do lugre Trombetas, da Lusitânia, companhia da Figueira da Foz, pescaram das águas geladas dos mares do Norte uma cómoda que boiava próximo do lugar onde o Titanic tinha colidido com um iceberg, a 14 de abril. Com maior ou menor dificuldade, dependendo dos relatos, lá se conseguiu abrir as gavetas do móvel, descobrindo-se um conjunto de talheres marcados com a estrela da White Star Line, empresa a operar o Titanic.
Regressado a terra, o capitão deu conta do achado ao armador, na Figueira da Foz, que não terá dado grande importância ao assunto, aconselhando o capitão Frade [alcunha de João Francisco Grilo] a levá-los para Ílhavo, de onde era natural, ficando com alguns talheres e distribuindo os restantes por familiares e amigos.
Foi assim que Ana Maria Lopes, também natural de Ílhavo, herdou do avô – capitão Pisco – os talheres que, mais tarde, dariam origem à história “Os talheres mágicos do Titanic”, livro com texto de Paulo Trincão e ilustração de Cristina Sampaio, destinado aos mais jovens leitores, com base na história original contada ao agora diretor do Exploratório – Centro Ciência Viva de Coimbra na primeira pessoa.
Aconteceu, entretanto, que o Exploratório, primeiro em Cantanhede, na Expofacic, e depois em Coimbra, promoveu e apresentou a exposição “Titanic – A Reconstrução”, o que motivou o renascer da história dos talheres pescados nas águas geladas dos mares do norte por um navio pesqueiro português.
Tanto assim foi, que os “talheres mágicos”, a história e o livro da autoria de Paulo Trincão, deram origem a um conjunto de atividades a juntarem leitura e ciência para os mais novos. Mas também despertaram o interesse de Miguel Amaral, residente na Figueira da Foz e proprietário de mais um conjunto de talheres do Titanic, que recentemente visitou a exposição no Exploratório.
O facto é que a história destes talheres, que Miguel Amaral recebeu de uma de três irmãs suas amigas, filhas da família Pata, da Figueira da Foz, há perto de três décadas, é uma peça a encaixar na perfeição no puzzle destes “talheres mágicos”. Ficam algumas questões à procura de resposta: terá sido por desinteresse ou por receio das acusações de falha no socorro de algumas embarcações no local do trágico naufrágio que o armador português não valorizou o achado dos talheres? E quantos conjuntos de talheres do Titanic ainda poderão estar por identificar na posse de famílias, tanto em Ílhavo como na Figueira da Foz?
As respostas, espera-se, talvez possam ainda acontecer em capítulos próximos da exposição “Titanic – A Reconstrução”, no Exploratório até este domingo, mas que conta já com o interesse manifesto de outras cidades no país.
Quem ainda não viu, não pode perder a oportunidade de visitar a exposição e ficar a conhecer todos os segredos do Titanic, nestes dois últimos dias, sábado e domingo, 29 e 30 de dezembro, entre as 10h00 e as 18h00.Tags: