Paisagens turvas pelo calor escaldante

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Já de olhos postos nas bodas de prata do Portugal de Lés-a-Lés, tempo para um balanço da 24.ª edição da aventura que, desde 1999, liga dois extremos do mapa nacional. Uma epopeia marcada pelo calor, muito calor, que acompanhou os 2400 participantes de Faro a Bragança, com paragem em Castelo de Vide e na Covilhã, reforçando a exigência da maratona mototurística. Que, recorde-se, atravessou mais de 40 concelhos ao longo dos 1256 quilómetros percorridos durante mais de 32 horas de condução.

O trajeto delineado pela Comissão de Mototurismo da Federação de Motociclismo de Portugal passou ainda por 33 rios e ribeiras, 5 barragens e albufeiras e rodou nos Parques Naturais da Rio Formosa, Vale do Guadiana, Serra de S. Mamede, Tejo Internacional, Malcata e Douro Internacional. E permitiu a visita a 7 museus (Afonso III, Marítimo, Regional do Algarve, Ruínas de Milreu, do Rio, do Queijo, CEAMA de Almeida) e 4 catedrais, incluindo a ‘sede do MC Faro’ e a Concatedral de Mirando do Douro, além de atravessar 8 fronteiras luso espanholas e passar por territórios onde se falam quatro línguas diferentes: português, mirandês, castelhano e a ‘fala de Xálima’ ou da Extremadura.

Mais do que simples curiosidades, os números espelham a grandeza de um evento que contou com o apoio dos moto clubes de Faro, Albufeira, Falcões das Muralhas (Mértola), Moura, Moto Livres (Mourão), Motards do Ocidente, GM Arronches, Conquistadores (Guimarães), MK Mákinas (Tábua), Porto, Lobos da Neve (Covilhã), Moto Galos (Barcelos), Templários (Mogadouro) e Moto Cruzeiro (Bragança). Clubes que estão na génese do Portugal de Lés-a-Lés e que foram, como sempre, alicerce imprescindível para a organização da maior maratona mototurística da Europa.
 
As vacas e o javali, a GNR, os romanos e o Astérix
 
Sempre sob intensa canícula, os participantes que fizeram rolar as mais de 2200 motos foram controlados por umas simpáticas vaquinhas, em Alcoutim, onde viram a Guarda Nacional Republicana e a Guardia Civil a juntarem esforços para apanhar contrabandistas fugidios, encontraram muitos romanos (Milreu ou Penha Garcia) e até duas completas aldeias gaulesas. Junto ao Menir do Outeiro, o Astérix, Obélix e outros personagens ‘ocidentais’ criaram a Aldeia Gaulesa do Ocidente, enquanto em Freixiosa, já no concelho de Miranda do Douro, os Conquistadores continuaram a resistir aos romanos e ao calor, homenageando a tradução das aventuras do Astérix para o mirandês no mais animado controlo deste Lés-a-Lés. Ainda assim, curiosamente, quem encontrou e caçou o verdadeiro javali, aquele que o Obélix tanto gosta, foi o MK Mákinas que durante a noite passada no controlo em Penamacor foi visitado por um porco-bravo que rapidamente virou belo petisco.

Mas houve também reis, rainhas e até bobos da corte ao longo dos 18 pontos de controlos cujas picadelas na tarjeta assinalavam o total e perfeito cumprimento do percurso, tranquilo mesmo para antigos pilotos de renome como Alexandre Laranjeira, Miguel Farrajota, Bernardo Villar ou o virtuoso dos automóveis agora convertido às duas rodas, António Rodrigues. Tudo numa caravana, longa e heterogénea, que contou com atores, políticos, cantores, cientistas, mecânicos, vendedores, presidentes, jornalistas, pedreiros, camionistas, talhantes, carpinteiros e jogadores de futebol. Como Paulo Madeira, o antigo central da Seleção Nacional e do Benfica que, no palanque final, em Bragança, reconhecia “ter sido um Lés-a-Lés bem mais duro do que os treinos com José Mourinho”. Palavras que atestam bem da exigência do evento da FMP, conhecido que é o empenho extremo exigido em todos os treinos pelo ‘Special One’.

Um Portugal de Lés-a-Lés com percurso que mereceu aplausos unânimes, mas que foi fortemente endurecido pelo calor. “A organização e os participantes foram surpreendidos por dias de calor extremo, os mais quentes do ano e isso aumentou a dificuldade para cumprir um trajeto longo no Alentejo e mais trabalhoso nas Beiras e Trás-os-Montes” sublinhou Ernesto Brochado. Para o principal responsável pelo percurso, “o início do 2.º dia, que foi alvo de várias críticas, foi pensado para desfrutar da paisagem sem grandes paragens, mas o calor complicou as coisas”. Por isso mesmo, o elemento da Comissão de Mototurismo da FMP reforça o pedido “a todos os participantes para que guardem o ‘road-book’ e cumpram o trajeto numa Primavera fresca, verde e florida. E, aí sim, poderão apreciar na plenitude um percurso com tanto de trabalhoso como de belo. Tão exigente em termos de condução como imponente em termos de paisagens”. Em suma, um verdadeiro Portugal de Lés-a-Lés.

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