Estudo alerta que número de alunos com dor na coluna é superior ao expectável

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A Unidade de Cuidados na Comunidade São Martinho, do Centro de Saúde de S. Martinho do Bispo, em Coimbra, em colaboração com o Colégio Bissaya Barreto, está a analisar as causas de perturbações músculo-esqueléticas da coluna na faixa etária dos 10-12 anos, e quais os fatores de maior risco – como o uso e peso da mochila e problemas de postura relacionados com uso de telemóvel e tecnologias. Sensibilizar a comunidade – pais, professores e alunos – para a prevenção destes comportamentos é outro dos objetivos.

O Colégio Bissaya Barreto participa no projeto da Unidade de Cuidados na Comunidade São Martinho, do Centro de Saúde de S. Martinho, intitulado “Cuidado com a Coluna”, que pretende estudar e sensibilizar para os problemas músculo-esqueléticos da coluna nas faixas etárias mais jovens. O projeto está a ser desenvolvido pela Unidade de Cuidados na Comunidade São Martinho, com a colaboração das escolas básicas da área de abrangência do Centro de São Martinho do Bispo, e tem como alvo os jovens dos 10 aos 12 anos, uma faixa etária que ainda não está muito estudada e onde é importante intervir precocemente.

Segundo Ana Morais, enfermeira especialista em Enfermagem de Reabilitação e responsável do projeto, os principais objetivos são contribuir para a diminuição da incidência das perturbações músculo-esqueléticas nos jovens dos 10 aos 12 anos, através da prevenção: sensibilizar os jovens, os pais e os professores para a prevenção – de posturas incorretas na posição sentada e no transporte de peso excessivo na mochila -, e conhecer a dimensão da problemática nesta faixa etária.

De acordo com a responsável, depois de analisados os resultados, “pretende-se sensibilizar todos os educadores para que se envolvam mais e possam ajudar as crianças a corrigir comportamentos de risco”, salientando a questão da postura como o maior problema identificado. “Embora a questão do uso da mochila também seja importante, a forma e o tempo que os jovens passam a interagir com as novas tecnologias, sem uma postura correta, é um fator muito mais significativo” para a prevalência das perturbações músculo-esqueléticas, adverte Ana Morais. O estudo pretende recolher dados juntos dos alunos que venham esclarecer quais os comportamentos adotados e quais as principais queixas apresentadas. Para já, a responsável realça que a percentagem de jovens analisados que apresentam dor é “muito maior do que era expectável”.

O projeto envolve um universo de 320 crianças e compreende várias fases de desenvolvimento. Num primeiro momento, os alunos respondem a um questionário sobre questões relativas a hábitos de postura, uso de mochila, uso de cacifos, presença de dor, entre outros. Segue-se a avaliação postural da coluna dos jovens realizada por uma equipa composta por médicos fisiatras, enfermeiros de reabilitação e fisioterapeuta. Os dados recolhidos são tratados e avaliados, com vista a encaminhar os alunos que apresentem perturbações músculo-esqueléticas para consultas de Medicina Física e Reabilitação, e que inclui também uma sessão de educação para a saúde dirigida aos jovens, pais e encarregados de educação. Nesta sessão, os adultos são alertados para todos os fatores que podem interferir na saúde das crianças - como o controlo do peso corporal, o peso das mochilas, o modo como transportam as mochilas de alças ou as de rodas, a posição como estão sentados ou deitados a ver televisão, a forma como usam o telemóvel ou tablet, a prática desportiva, a qualidade do sono, entre outros – e são apresentados os resultados do estudo feito às crianças.

São cerca de 80 alunos das turmas do 5.º e 6.º anos do Colégio Bissaya Barreto que estão a participar neste projeto. De acordo com Maria João Arruda, coordenadora do 2.º Ciclo do Colégio, a participação é muito importante, “porque ajuda os alunos a pensar em questões como a postura a ter quando estão sentados nas aulas e o peso das mochilas e a quantidade de livros que carregam consigo”. Segundo a docente, o Colégio Bissaya Barreto já tem boas práticas implementadas, com formas de contornar o problema do peso das mochilas. “O trajeto em que transportam a mochila é curto, apenas à chegada e à saída, não mudam de sala, por isso os materiais ficam no mesmo lugar durante todo o dia de aulas, e há vários cacifos disponíveis para os que querem usar”, explica.

PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA

As perturbações músculo-esqueléticas (PME) têm aumentado na última década, sobretudo nos países desenvolvidos, com tendência para a cronicidade e manutenção na idade adulta, o que representa um problema de saúde pública.

A prevalência deste problema na adolescência e a sua relação com fatores de risco tem sido objeto de estudo e é reconhecido que estas perturbações não podem ser só explicadas pelos fatores físicos, devem também incluir fatores sociais, psicológicos e ambientais. A obesidade, o mobiliário escolar, a mochila escolar e as tecnologias de informação (computador, telemóvel, tablet, entre outros) são fatores de risco identificados como potenciadores das perturbações músculo-esqueléticas na adolescência.

No âmbito da execução do Programa Nacional de Saúde Escolar (PNSE) tem-se verificado, nos últimos anos, um aumento das queixas de dor ou desconforto a nível vertebral por parte dos adolescentes. O PNSE 2015 estabelece que a educação postural é um dos fatores que influenciam as condições de saúde músculo-esqueléticas ao longo da vida, e no plano preventivo e educacional torna-se necessária uma intervenção sistemática que possibilite a promoção de hábitos posturais corretos.

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