Investigadores destacam-se em desafios de proteção de infraestruturas subaquáticas críticas num dos maiores exercícios mundiais de robótica
Demonstração realizou-se durante o REPMUS 23, o maior exercício do mundo de experimentação de Sistemas Marítimos Não Tripulados, realizado em Troia e Sesimbra
Detetar cargas explosivas num cabo submarino ou sinalizar e avaliar o estado de um submarino, localizado a 90 metros de profundidade, com tripulação a bordo, simulando uma emergência. Estes são dois exemplos das provas realizadas pelo Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), durante o REPMUS, o maior exercício do mundo de experimentação de Sistemas Marítimos Não Tripulados e outras tecnologias emergentes, organizado pela Marinha Portuguesa.
Mar Profundo, EVA e Turtle – um navio de investigação e dois robôs subaquáticos. Sete dias. Três exercícios. O INESC TEC participou no REPMUS (Robotic Experimentation and Prototyping Augmented by Maritime Unmanned Systems), realizado recentemente em Troia e Sesimbra, e demonstrou a capacidade da sua tecnologia para ações de proteção de infraestruturas subaquáticas críticas.
O primeiro exercício no qual a equipa de investigadores do INESC TEC participou teve como objetivo a identificação de um cabo submarino, no qual foram colocadas cargas explosivas para simular um ataque. A equipa, a bordo do navio Mar Profundo, utilizou o robô EVA para detetar e mapear o cabo – com 400 metros de comprimento e 2,8 centímetros de diâmetro - bem como detetar e localizar possíveis ameaças.
“No futuro, teme-se que os conflitos sejam digitais, por isso, se pensarmos que este tipo de infraestruturas que são usadas, por exemplo, para transmissão de informação e que podem estar localizadas em águas profundas, podendo ser alvo de ataques, temos de garantir uma forma de os detetar. Os robôs desempenham aqui um papel fundamental, porque chegam a profundidades que os humanos não alcançam e permitem a realização destas operações com maior eficiência e em maior segurança”, explica José Miguel Almeida.
De acordo com o investigador do INESC TEC e docente no Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), além de detetar e mapear um cabo submarino armadilhado, o robô EVA revelou-se ainda uma excelente ferramenta num outro exercício. Em apenas cerca de 25 minutos, fez um mapeamento de precisão e uma reconstrução tridimensional do Submarino Português NRP Arpão, localizado a cerca de 90 metros de profundidade e com a sua tripulação a bordo. O objetivo? Localizar e perceber o estado do submarino, que simulava uma situação de emergência.
“Depois de recebida acusticamente uma mensagem com a posição estimada do submarino, tivemos de, à superfície, com o Mar Profundo, mapear e detetar o submarino. Depois de feito o mapeamento, mergulhamos a EVA para realizar um novo mapeamento, de precisão, e uma reconstrução tridimensional de forma a conseguirmos perceber o estado da embarcação. Estivemos 25 minutos com a EVA na água e foi o suficiente para o conseguirmos fazer”, relata o investigador.
Por fim, a equipa conseguiu ainda, pela primeira vez, enviar em tempo real as imagens captadas debaixo de água pelo Lander Robótico Turtle III para o Centro de Comando e Controlo da Marinha. Como? Através de comunicações óticas. “Fizemos descer o Turtle de forma autónoma, aterrando no canhão de Setúbal a aproximadamente 350 metros de profundidade, em missão de monitorização de vários dias no fundo do mar. Depois, enviamos a EVA para recolher dados do Turtle e fizemos pela primeira vez live streaming de imagens de uma câmara instalada no Turtle, pelo que foi possível ver em tempo real o que o Turtle estava a ver no centro de comando em Troia. Conseguimos fazer uma comunicação ótica sem fios entre os dois robôs e transmitimos toda a informação que o Turtle recolheu para a EVA através de um link ótico, e posteriormente retransmitir a informação para o Mar Profundo e depois para terra por 5G”, conclui José Miguel Almeida.
O REPMUS realizou-se em setembro, em Sesimbra e Troia. Trata-se de um exercício de robótica organizado pela Marinha Portuguesa, que tem como coorganizadores a Universidade do Porto (UP), o NATO Centre for Maritime Research and Experimentation (NATO CMRE) e a NATO Maritime Unmanned Systems Initiative (NATO MUSI), e conta com a participação de várias entidades, com 1400 participantes de 26 países.
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