OS MIGRANTES SÃO UM RISCO PARA A POPULAÇÃO DOS PAÍSES DE ACOLHIMENTO?

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Seminário Migração e Saúde divulga resultados da investigação a decorrer no IHMT: 8 de Junho na Fundação Calouste Gulbenkian

No dia 8 de junho pelas 9 horas, os desafios da migração vão estar em análise no Auditório 2 da Fundação Calouste Gulbenkian.
A iniciativa conta com a presença de Adalberto Campos Fernandes, Ministro da Saúde, bem como o Vice-Presidente da Assembleia da República, José Manuel Pureza e Sónia Dias, coordenadora do estudo e professora no IHMT, entre outras personalidades de relevo.

Os migrantes são um risco para a população dos países de acolhimento?

Os dados obtidos pela investigação que é conduzida no IHMT, sob a coordenação da Professora Sónia Dias, apontam para o não.

Os dados dos estudos mostram que os migrantes quando chegam a Portugal reportam um bom estado de saúde. Tendem muitas vezes a apresentar até melhor estado de saúde do que os nacionais – aliás estes dados vão ao encontro de estudos internacionais – este fenómeno descreve-se como efeito do “migrante saudável”.

Estes dados contrariam a ideia muitas vezes socialmente preconcebida de que os imigrantes que chegam são uma ameaça à saúde das populações de acolhimento e um peso para os serviços de saúde. No último Inquérito Nacional de Saúde, 65% dos migrantes reporta um bom estado de saúde, em contraste com 43% dos portugueses. Dados semelhantes são encontrados na área da saúde mental e doença crónica.

A investigação realizada no IHMT mostra também que o estado de saúde dos migrantes varia com o tempo de residência, ou seja, o estado de saúde tende a piorar com o aumento do tempo em Portugal. Por outro lado, os subgrupos socialmente mais vulneráveis, em que é persistente o baixo nível educacional e o baixo rendimento, são quem apresenta piores indicadores de saúde. Simultaneamente, são estes grupos quem menos acede aos serviços, o que contribui para a acumulação de vulnerabilidades e maior probabilidade de adoecer.

Um estudo, coordenado pela Professora Doutora Sónia Dias, do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) da Universidade Nova de Lisboa, e desenvolvido por solicitação e com financiamento da Direção-Geral da Saúde/Programa Nacional para a Infeção VIH/sida, alerta para a necessidade de melhorar o acesso a serviços de saúde, incluindo na área da saúde sexual e aumentar a cobertura do teste para o VIH na população imigrante. Cerca de 52% dos participantes do estudo nunca tinham realizado o teste antes e, entre os que apresentaram positividade para o VIH, quase 35% não tinham conhecimento de que eram portadores da infecção.

A Professora Sónia Dias realça que “mais do que considerar os migrantes como uma população de risco, é necessário entender o que faz com que alguns grupos sejam uma população vulnerável e as razões que contribuem para que ao longo do tempo estes migrantes adoeçam mais”. Por exemplo, os dados que reportamos descrevem que populações migrantes, oriundas de países de baixa e média renda, ao longo do tempo em Portugal, estão desproporcionalmente mais vulneráveis a   doenças infeciosas, como o VIH e TB, e problemas de saúde mental.

O que sabemos hoje é que a população migrante é heterogénea, com várias características e processos migratórios, diversas vulnerabilidades e diferentes níveis de risco. Assim, os resultados destes estudos permitem-nos conhecer melhor que subgrupos e contextos prioritários devem merecer especial atenção, nomeadamente os subgrupos socialmente mais excluídos e por isso mais vulneráveis, os menos abrangidos pelos serviços e de mais difícil acesso.

Precisamos de compreender melhor como os imigrantes utilizam os serviços de saúde, quem não utiliza e quais as principais barreiras e obstáculos que impedem a sua utilização.  Por exemplo, encontramos frequentemente um grupo importante de imigrantes indocumentados que nunca recorreu aos serviços de saúde.

Hoje sabemos que a saúde dos imigrantes está fortemente ligada a uma boa integração nos países – e por outro lado, a doença potencia a exclusão e a exclusão potencia a doença. Neste contexto, melhorar a saúde das populações migrantes e garantir o acesso a cuidados de saúde com qualidade são aspectos cruciais para a sua integração e inclusão social.

Neste contexto específico, é necessário intervir junto de grupos prioritários e desenvolver estratégias de ação adequadas e adaptadas às necessidades destes grupos específicos. São precisos esforços que contribuam para que os migrantes se mantenham saudáveis e possam contribuir para o desenvolvimento demográfico e económico do país.

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