ENCONTROS DO CINEMA PORTUGUÊS TRAZEM NOVIDADES, DEBATE E MAIS PROJETOS PARA CINEMA
Este ano, os Encontros do Cinema Português contaram com a apresentação de 47 projetos de produção nacional e a participação de mais de 200 representantes da indústria, desde produtores, argumentistas, atores, aos premiados realizadores Margarida Gil, Ivo Ferreira e Miguel Gomes, entre outros. No decorrer do evento foram apresentadas obras que estrearam no circuito de festivais, e filmes dos mais variados géneros, para todos os tipos de público, que chegarão às salas de cinema ao longo do ano. Das comédias, às produções biográficas, produções históricas, documentários e filmes drama, destaca-se a diversidade representativa das diferentes formas de criar e pensar cinema em Portugal.
A 9ª edição da iniciativa promovida pela NOS Audiovisuais com o apoio do ICA (Instituto de Cinema e Audiovisual) foi, uma vez mais, para a rua questionar os espectadores acerca do cinema português. A falta de oferta, escassez de diversidade de conteúdos, preço e falta de publicidade, foram as principais causas apontadas para a falta de notoriedade das produções realizadas em território nacional.
Este foi o mote para o início da discussão sobre ‘Os desafios do Cinema Português’, num debate moderado pelo jornalista Vitor Moura, e que contou com a participação de José Fragoso (RTP), José Gandarez (produtor), Luís Chaby (ICA), Pandora da Cunha Telles (produtora), Susanna Barbato (NOS Audiovisuais) e Tânia Fragoso (NLC Cinema City/APEC).
Para Susanna Barbato, da NOS Audiovisuais, é fundamental olhar para o público que vai ao cinema, uma vez que “a partir de 2020, verificamos uma transformação muito grande no perfil de pessoa que procura as salas de cinema. Antes da pandemia tínhamos um grande desafio, que era recuperar o público jovem, mas com esta transformação o público jovem voltou às salas, e o público mais velho ainda não. Os mais jovens voltaram e criaram o hábito de ir ao cinema o que é, sem dúvida, uma oportunidade. Este segmento de público cresceu a ver blockbusters americanos, por isso temos outro desafio - atraí-los para o cinema português. A maior parte dos filmes portugueses infelizmente não são apelativos para os mais jovens. E é esta parte cultural que, no meu entender, também influencia o baixo número de espectadores que se deslocam ao cinema para ver produções nacionais.
Relativamente à relação dos portugueses com as produções nacionais, José Fragoso, Diretor de Programas da RTP, aponta o reduzido número de comédias produzidas em Portugal - um género com peso significativo no mercado nacional e internacional, no que a espectadores diz respeito. Contudo, afirma que “há sinais de que a pandemia está a passar – há muitos projetos, há muita diversidade e um número muito significativo de produções. Olhando para os 47 projetos apresentados poderíamos ter, em média, cerca de quatro produções nacionais a estrear em sala por mês. E, além deste sinal positivo, existem ainda muitos projetos que poderão ter a capacidade de atrair o público”, mas é muito importante fazer um research, perguntar ao consumidor o que quer ver e depois produzir histórias que o público queira ver, e não apenas filmes para festivais.
“Nós temos um mercado muito liberal quanto à oferta na exibição e distribuição, e na forma como é apoiada a produção. Felizmente, neste momento, temos uma diversidade de apoios públicos que financiam a produção nacional e não têm nenhuma espécie de restrições relativamente ao conteúdo. Temos, de facto, uma quota de mercado muito baixa. Seria benéfico se a conseguíssemos aumentar, o que aportaria, naturalmente, maior responsabilidade por parte das políticas públicas para garantir a oferta de filmes portugueses nas salas de cinema”, destaca Luís Chaby, presidente do ICA – Instituto de Cinema e Audiovisual, relativamente ao financiamento de projetos nacionais.
Por outro lado, na perspetiva da produção, Pandora da Cunha Telles refere que “é preciso mais dinheiro para a produção e promoção dos filmes. No mercado internacional, encontramos uma série de políticas de investimento em cinema juvenil e para as famílias de forma a fomentar junto dos mais jovens o hábito de ir ao cinema. Exemplo disso é o caso da Suíça, onde há incentivos não só para produtores, como também para realizadores que tenham feito filmes com mais espectadores. Em Portugal é necessário investimento público para este tipo de projetos. Apesar de haver um enorme esforço com o Programa Nacional de Cinema, confesso que não acho que a solução seja levar o cinema às escolas, mas sim as escolas ao cinema”.
Para o produtor José Gandarez, o cinema português tem poucos espectadores “porque temos tido políticas culturais erradas. Neste momento, achamos que o que deve ser prioritário na concessão de apoio aos filmes são os prémios, a presença em festivais, as nomeações e o currículo do realizador, em detrimento do potencial de bilheteira e já existem estudos que comprovam que o caminho deve ser exatamente o inverso”.
O aumento do tempo de exibição em sala também foi discutido e, para Tânia Fragoso do NLC Cinema City/APEC, o que faz um filme manter-se em sala são, sem sombra de dúvida, os espectadores”. Sobre os apoios a exibidores para potencializar o período de exibição afirma que “não vai ser possível pedir o apoio para todas as salas de cinema e faz sentido utilizá-lo em salas específicas, com dinâmicas próprias. Nas restantes, o que poderá ditar o tempo de exibição é o conteúdo – precisamos criar conteúdo que o público queira ver no grande ecrã”.
A nova aposta dos Cinemas NOS em salas dedicadas exclusivamente ao cinema português, em Lisboa, no Porto, e em Coimbra, também foi referida ao longo do debate, enquanto instrumento para a valorização da indústria cinematográfica nacional junto dos espectadores.
‘Hotel Amor’, do realizador Hermano Moreira, foi o grande vencedor do Prémio Canal Hollywood, a novidade do evento deste ano, que distinguiu o promissor projeto com um valor de 55 mil euros para investimento em comunicação, promoção e media.
Nesta edição dos Encontros do Cinema Português houve ainda espaço para analisar alguns dados relativos ao mercado do cinema em território nacional. Para 2024, os números apontam uma estimativa de crescimento na ordem dos 8% em receita bruta, e cerca de 6% no número de espectadores, acompanhando a tendência de recuperação da indústria no período pós-pandemia. Em 2023 chegaram mais de 45 produções nacionais às salas de cinema. ‘Pôr do Sol: O Mistério do Colar de São Cajó’, do realizador Manuel Pureza, foi o filme mais visto do ano e arrecadou aproximadamente 700 mil euros em receita bruta de bilheteira.
Em 2023, o cinema português representa uma quota de mercado de 2,7% em espectadores e 2,1% em Receita Bruta, a mais baixa dos últimos 5 anos. Comparada com outros países europeus é a 3ª Quota de mercado de cinema local mais baixa.
Desde a sua primeira edição, já participaram nos Encontros do Cinema Português mais de 1800 representantes da indústria e foram apresentados cerca de 350 projetos, sendo que, até à última edição, cerca de 70% estrearam em sala.
A NOS Audiovisuais, como principal distribuidora de cinema em Portugal, continua a promover a cultura e a dinamizar o crescimento o setor, através de iniciativas que promovem a reflexão sobre as estratégias e os caminhos para potencializar a notoriedade da produção nacional.
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