Cities Changing Diabetes Lisboa desafia a cidade a avaliar o impacto do ambiente urbano na prevenção da Obesidade e Diabetes
Programa de prevenção lança o Foodscapes Toolkit
O Cities Changing Diabetes Lisboa (CCD Lisboa), programa de prevenção da Diabetes e Obesidade na cidade de Lisboa, vai lançar hoje, Dia Mundial da Diabetes, o Foodscapes Toolkit, uma ferramenta que permite às comunidades avaliar o impacto do ambiente urbano na saúde pública da sua população, com vista à definição de medidas que facilitem o acesso das pessoas a uma melhor saúde e maior bem-estar físico e social.
Este toolkit foi aplicado num projeto-piloto no bairro 2 de Maio na Ajuda, em Lisboa, uma iniciativa integrada na estratégia do CCD Lisboa e desenvolvida em parceria com a Gehl e a LOCALS APPROACH. Durante cerca de um ano, estas organizações estudaram o ambiente urbano da freguesia da Ajuda, de forma a perceber quais os comportamentos alimentares dos residentes, as opções de comida e a qualidade dos espaços públicos nesta área da capital portuguesa. Através desta análise, foi possível gerar um conjunto de recomendações e iniciativas que objetivam a criação de condições mais propícias a uma melhor saúde e maior bem-estar físico e social da população, sobretudo junto daqueles que têm menos oportunidades de fazer escolhas saudáveis.
Dos resultados obtidos, destaca-se o facto de na Ajuda existir uma oferta reduzida de alimentos e, em especial, de opções de alimentação saudável. No total, somente um em cada cinco dos locais de compra e aquisição de comida observados vende frutas e verduras frescas. Contudo, o problema não está apenas na dimensão da oferta, mas também na própria localização destes espaços, por norma afastados dos locais onde a população reside ou estuda, uma realidade agravada pela topografia do território. Segundo 55% dos inquiridos deste estudo, a subida da encosta com o peso das compras é um dos maiores desafios no que toca ao acesso a uma alimentação saudável, assim como o preço destes produtos. Ainda, as condições microclimáticas adversas, uma disposição pouco cómoda e segura do espaço público – com 65% deste alocado aos carros e apenas 20% aos peões – e a reduzida visibilidade dada à oferta alimentar saudável nos espaços comerciais, são outras das dificuldades apontadas no diagnóstico.
Este diagnóstico aponta ainda o tempo, o dinheiro e a literacia alimentar – da população e organizações locais – como fatores considerados fundamentais pelos inquiridos para a adoção de uma alimentação saudável. No que respeita à relação do preço com a escolha de alimentos saudáveis, o estudo refere o impacto do atual contexto de inflação. Por exemplo, e de acordo com a análise realizada, o preço dos alimentos não processados aumentou 15% em comparação com o mesmo período do ano passado.
Para a concretização deste projeto, Gonçalo Folgado, Presidente da LOCALS APPROACH, destaca a importância do envolvimento da comunidade local: “Foi para nós fundamental que o Foodscapes se desenvolvesse enquanto projeto assente num modelo participativo, no qual os diversos agentes locais foram desafiados a contribuir para um diagnóstico mais aprofundado do ambiente urbano e de como este define a experiência alimentar da comunidade. Graças a esta cocriação, foi-nos possível obter uma visão clara quanto à situação real da Ajuda, permitindo-se ter conclusões mais finas do impacto do ambiente urbano na saúde dos cidadãos desta freguesia.”
A Diabetes é um desafio de saúde global e urgente, assistindo-se ao aumento da sua prevalência a um ritmo alarmante, em todo o mundo. Atualmente, cerca de 537 milhões de adultos no mundo vivem com Diabetes – um número que deverá aumentar para 783 milhões até 2045, se não forem tomadas medidas que revertam esta tendência. Neste contexto, as cidades estão na linha da frente do desafio da Diabetes. São onde vive mais de metade da população mundial e onde residem três em cada quatro pessoas com Diabetes. Os ambientes urbanos têm um impacto significativo na forma como as pessoas vivem: como se deslocam, se divertem, trabalham e se alimentam – fatores que, em combinação, impactam o aumento da Diabetes tipo 2.
Embora as cidades sejam motor do crescimento económico e inovação, alguns dos fatores de prosperidade conduzem também a iniquidades em saúde. Isto significa que, algumas pessoas têm menos oportunidades de fazer escolhas saudáveis do que outras e que as populações mais vulneráveis estão em maior risco de doença. A prevenção é chave e só conseguiremos travar o aumento da incidência e prevalência da Diabetes tipo 2 se for dada prioridade à ação sobre a Obesidade.
Para responder a este desafio, o Steno Diabetes Center Copenhagen, a University College London (UCL), e a Novo Nordisk lançaram, em 2014, o Cities Changing Diabetes. Aos membros fundadores juntaram-se um conjunto de parceiros globais: C40, EAT, Gehl, entre outros. Atualmente, o programa inclui mais de 40 cidades e 150 organizações parceiras envolvidas, entre elas, líderes municipais, autoridades de saúde, academia, ONG, organizações da sociedade civil, empresas.
Lisboa integra, desde novembro de 2019, o Cities Changing Diabetes, adesão que foi formalizada com a assinatura de um Memorando de Entendimento de Cooperação entre a Câmara Municipal de Lisboa, a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP), a Administração Regional da Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, a NOVA Medical School e a Novo Nordisk Portugal. Em 2020, a Santa Casa de Misericórdia de Lisboa junta-se ao CCD Lisboa. Este projeto nasce, assim, do reconhecimento das partes do interesse e objetivo comum de contribuírem para uma melhor saúde e maior bem-estar físico e social da população de Lisboa, e da vontade de colaborarem entre si para responder ao desafio que a Diabetes e a Obesidade representam para a cidade.
Hoje, o CCD Lisboa lança o Foodscapes Toolkit como um dos seus primeiros grandes projetos. Com este lançamento, o CCD Lisboa disponibiliza uma metodologia de informação que ajuda os municípios a trazer um maior foco, nas suas comunidades, para a importância dos ambientes alimentares, da atividade física e dos estilos de vida saudáveis.
Para Sofia Athayde, Vereadora da Câmara Municipal de Lisboa, “é com enorme satisfação que vemos Lisboa ser pioneira num projeto que traz consigo a missão de repensar a forma como as cidades podem impactar positivamente a nossa saúde. Face à previsão de uma crescente incidência de desafios de saúde pública, como a Obesidade e a Diabetes, são certamente ferramentas como o Foodscapes Toolkit que nos irão permitir definir medidas efetivas de promoção de uma melhor saúde para todos os lisboetas”.
Do lado da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal, José Manuel Boavida, Presidente desta organização, refere ser “cada vez mais perentória a criação de soluções de cariz prático que tragam mudanças efetivas e que possam reverter a crescente curva da Diabetes – é nesta missão que se enquadra o Cities Changing Diabetes para a cidade de Lisboa. E as mudanças têm de passar, entre outros, por sermos capazes de identificar os fatores que determinam a vulnerabilidade das pessoas para o desenvolvimento de doenças relacionadas com o estilo de vida, como é o caso da diabetes e obesidade e, a partir daí, conseguirmos apontar medidas concretas que permitam, a médio-longo prazo, reduzir o número de novos casos destas doenças”.
Já Paula Barriga, Diretora Geral da Novo Nordisk Portugal, destaca a importância do papel de cidades como Lisboa na sensibilização dos portugueses para a prevenção: “Iniciar o Cities Changing Diabetes em Lisboa tem para nós, enquanto parceiros e agentes de uma cidadania ativa, um significado muito importante, trazendo a oportunidade de, com o envolvimento dos parceiros, ter o município de Lisboa como um exemplo a seguir na resposta ao desafio crescente que a Diabetes representa. O projeto Foodscapes na Ajuda, é apenas o primeiro passo.”
Lisboa reforça atuação no combate à Diabetes e Obesidade
O dia de hoje será também marcado pela assinatura da Urban Diabetes Declaration, um momento que renovará o compromisso dos parceiros do CCD Lisboa em colaborar na resposta ao desafio da Diabetes na cidade de Lisboa. em torno de 5 eixos de atuação:
investir em políticas e ações promotoras de uma melhor saúde e bem-estar; atuar ao nível sociocultural e garantir e equidade em saúde; integrar o fator “saúde” em todas as políticas públicas; envolver as comunidades no sentido de conceber soluções sustentáveis de promoção da saúde; assegurar a coesão entre setores para o desenvolvimento de soluções.
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