Há 1 ano fugiram da guerra na Ucrânia: 5 histórias de quem foi afetado pela guerra e tenta reerguer a sua vida
Contabilizam-se mais de 365 dias de uma guerra que não dá indícios de estar perto do fim, uma situação humanitária que se agrava de dia para dia, e que requer uma resposta a longo prazo de organizações como o ACNUR e dos seus parceiros nacionais de sensibilização e angariação de fundos, como a Portugal com ACNUR. Entre os 17.6 milhões de ucranianos que necessitam de apoio urgente partilhamos a história de Valentyna, Olya, Tamara, Nadiia e Inna, 5 mulheres que representam todos aqueles que sofrem com as atrocidades desta guerra.
Tamara e a neta Milania viram a sua casa destruída por mísseis russos que atingiram o território ucraniano. Fugiram para sobreviver, mas estão hoje a reconstruir a sua vida. © UNHCR/Victoria Andrievska
Inna, recorda que se sentiu tão assoberbada por tudo aquilo que aconteceu naquele fatídico dia 24 de fevereiro de 2022, que nem conseguiu perceber logo toda a situação. “Sentada no comboio, lembro-me de toda a gente escolher o país para onde ia. Era muito estranho tudo para mim, a primeira vez que me senti como uma refugiada. Pensava que ia só por uma semana, estava muito longe de entender os contornos desta guerra”. E embora esteja atualmente a viver na Polónia, em segurança e a trabalhar com o ACNUR, continua com o sonho e a esperança de um dia voltar ao sítio a que chama de casa.
Ao medo, incerteza e pânico experienciado pelo povo ucraniano, somaram-se, ao longo do último ano, muitos outros sentimentos: desespero, desolação, mas também resiliência, força e uma grande gratidão pela ajuda prestada no terreno por organizações como o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). “Sinto que não fomos deixados sozinhos para lidar com a nossa tragédia. Toda esta entreajuda dá-me força e esperança na humanidade”, conta Tamara com um sorriso marcado no rosto.
Mas os traumas, esses insistem em ficar. Tamara, com 65 anos, nunca vai esquecer que viu o seu bairro na cidade de Chernihiv tornar-se o alvo dos bombardeamentos russos durante mais de 30 dias, com mísseis e rockets a deixarem um rasto de morte, devastação e destruição enquanto famílias inteiras faziam o que podiam para se refugiarem em caves e abrigos ou procurarem refúgio noutras regiões do país. Já Olya revela claramente sinais de stress pós-traumático: “Agora, sempre que oiço ruídos altos, fico assustada. Só consigo imaginar aquela bomba.”
Desde cobertores, lâmpadas solares e colchões, até abrigos, serviços de proteção aos mais vulneráveis, como mulheres, crianças e idosos, e apoio psicológico e de saúde mental, à assistência em dinheiro, são muitas as iniciativas que o ACNUR implementou para apoiar as pessoas afetadas pela guerra na Ucrânia. E, para isso, tem sido essencial o apoio dado pelos parceiros nacionais, como a Portugal com ACNUR, que ao longo deste ano redobrou esforços para sensibilizar e angariar fundos para esta emergência. “Além de estarmos a desenvolver uma campanha de donativos através do nosso site, estamos a apelar ao donativo através das nossas redes sociais”, avança a Diretora Nacional da Portugal com ACNUR Joana Brandão.
Abrigo, habitação e reconstrução são algumas das principais preocupações do ACNUR
Dar abrigo e melhorar as condições de vida a quem é obrigado a fugir de casa para escapar à guerra tem sido um dos principais focos da ação do ACNUR na Ucrânia. Uma necessidade que se tornou ainda mais urgente com a chegada do inverno rigoroso e que disfere mais um duro golpe para quem sofre diariamente com os efeitos desta guerra, sobretudo quando enfrentam cortes de eletricidade que deixam tudo gelado num curto espaço de tempo.
“Há cortes de energia elétrica de três ou quatro horas duas vezes por dia. As divisões arrefecem em apenas uma hora, e ainda nem sequer está a congelar no exterior”, explica Valentyna, uma mulher de 55 anos que foi obrigada a mudar-se temporariamente para uma casa modular fornecida pelo ACNUR depois de a sua casa em Borodyanka, uma das cidades nos arredores de Kiev tomada pelo exército russo no início da guerra, ficar totalmente destruída.
“O ACNUR já apoiou 1.5 milhões de pessoas com assistência de inverno, mas é essencial manter os programas de proteção e de abrigo, para apoiar as famílias que enfrentam o frio rigoroso, muitas a viver em casas danificadas ou destruídas e com falta de eletricidade, aquecimento e água”, afirma Joana Brandão, Diretora Nacinal da Portugal com ACNUR. Os últimos relatórios do ACNUR, indicam que, apesar dos esforços, aproximadamente 17.6 milhões de pessoas na Ucrânia continuam a precisar de apoio urgente.
São também necessárias soluções a mais longo prazo. A disponibilização de habitação temporária pelo ACNUR no terreno, através de casas modulares, tem sido essencial para muitas famílias que quiseram voltar a partir de maio, junho e julho do ano passado, como a de Valentyna ou Nadiia. “Fiquei tão feliz com esta notícia!", revela Nadiia. "A construção demorou apenas algumas semanas, tão rápido! E até pude escolher colocar a minha casa junto das minhas flores, para poder estar perto delas.” Agora Nadiia dispõe de uma habitação com todas as condições, junto da sua antiga casa, onde pode ficar até conseguir reconstruir a que perdeu.
A reconstrução é outro dos passos essenciais para o futuro do povo ucraniano. Com casas danificadas ou totalmente destruídas, é necessário empreender esforços para potenciar o regresso dos seus habitantes. Até porque é a vontade da maioria, garante Filippo Rossi, Coordenador de Operações Sénior do ACNUR, Gabinete Regional para a Europa. “Com as nossas pesquisas, sabemos que um grande número dos ucranianos quer regressar”, mas “o ponto mais crucial para isso é ter uma casa, um apartamento para onde voltar. Com o nosso programa em vigor já conseguimos reparar 6 mil casas”, acrescenta, por sua vez, Karolina Lindholm Billing, Representante do ACNUR na Ucrânia.
O ACNUR está no terreno a apoiar na reparação de casas danificadas ou totalmente destruídas pela guerra. Para abrigar as pessoas, de forma temporária, constrói também casas modulares. © UNHCR/Victoria Andrievska
Ajuda continua a ser necessária, apela Portugal com ACNUR
Depois de um ano de guerra, não há sinais de tréguas, nem de grande abrandamento. E no que respeita a emergência humanitária, também não. A cada relatório, e à medida que a guerra se estende no tempo, o número de refugiados e deslocados internos continua a ser muito preocupante: são já 8 054 405 o número de pessoas que fugiram da Ucrânia para outros países europeus em busca de segurança e cerca de 5 352 000 aqueles que, embora continuem dentro de território ucraniano, foram obrigados a procurar abrigo noutras vilas ou cidades, tornando-se deslocados internos.
E, se a guerra não para, também a ajuda e a solidariedade não podem parar! A Portugal com ACNUR está a desenvolver uma nova campanha de sensibilização e angariação de fundos para apoiar as populações afetadas na Ucrânia e as que fugiram para outros países da Europa. A Diretora Nacional da Portugal com ACNUR, ressalva que “dos 35.6 milhões de pessoas que vivem na Ucrânia, estima-se que metade necessitarão de assistência humanitária em 2023. O ACNUR pretende apoiar 4 milhões de pessoas, numa resposta que exige um financiamento de 1.5 mil milhões de euros”.