Especialistas debatem condicionantes da gripe no idoso em contexto COVID-19

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Lisboa, 19 de outubro de 2020 – Uma vez que a vacinação contra a gripe decorre, este ano, num cenário inédito e preocupante provocado pela pandemia COVID-19 e sendo os idosos um dos grupos com maior risco de desenvolver formas graves de ambas as doenças, torna-se fundamental esclarecer a comunidade sobre este tema. Com vista ao debate desta realidade, a Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), com a participação da Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC) e o apoio da Sanofi Pasteur, realizou um webinar que reuniu um conjunto de conclusões importantes.
 
Moderado por António Morais, presidente da SPP e Victor Gil, presidente da SPC, o webinar “Gripe no Idoso em Contexto COVID-19”, encontra-se disponível no Facebook da SPP.
 
Conclusões
O pneumologista Filipe Froes referiu que a taxa de cobertura da vacinação contra a gripe, na população com a idade igual ou superior a 65 anos, foi de 65,8% em 2018/2019, enquanto que em 2019/2020 foi de 76,6%. Este valor demonstra que, segundo os dados do relatório final do Vacinómetro 2019/2020, Portugal alcançou pela primeira vez a meta de 75% de taxa de vacinação proposta pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
 
O especialista sublinhou que “idealmente seria importante vacinar toda a população e ter uma vacina universal que evitasse a revacinação anual”. A vacinação gratuita contra a gripe foi alargada na época 2020/2021 aos imunodeprimidos e grávidas, grupos prioritários já incluídos nas recomendações de vacinação pela OMS. “As crianças deveriam ser o próximo grupo a ter acesso a vacinas gratuitas, contudo, ainda não é possível ter quantidades de vacinas que o permitam e não podemos retirar aos grupos já contemplados nesta gratuitidade.”
A gripe e a COVID-19 são tratadas com os respetivos fármacos e um medicamento para tratar a gripe não resulta para curar a COVID-19 e o mesmo acontece ao contrário. Por isso, a vacina da gripe não irá ser eficaz contra o SARS-CoV-2, contudo, ao prevenir a gripe pode prevenir a aquisição e a evolução para formas mais graves de COVID-19.
 
Uma vez que, quer a COVID-19 quer a gripe, podem também induzir complicações cardiovasculares, o cardiologista, Carlos Rabaçal, alertou que as pessoas com enfarte do miocárdio têm mais complicações com a gripe e que as infeções pelo vírus da gripe provocam AVC (Acidente Vascular Cerebral) mais extensos e volumosos e, por isso, é fundamental a prevenção.
 
“Quando as pessoas são vacinadas, após duas semanas, estamos a reduzir o risco de enfarte quase na ordem dos 20% e, com o passar do tempo esse benefício é ainda maior chegando quase aos 30%.”
 
O cardiologista admitiu que as decisões terapêuticas para estes doentes devem incorporar vacinas, pois a imunização traz benefícios e deve fazer parte da prevenção secundária. Porém, alertou, através de um exemplo, que os diabéticos têm acesso a vacina da gripe gratuita e os insuficientes cardíacos não têm acesso.
 
O presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), Rui Nogueira destacou a importância da vacinação como forma de prevenção, principalmente nos 22% da população portuguesa que é idosa.
 
Na fase final da discussão, Filipe Froes esclareceu sobre os medos relativamente à vacinação contra a gripe, referindo que as contraindicações nas vacinas são as mesmas para outros medicamentos, como a hipersensibilidade e a alergia a componentes da vacina – que é praticamente nulo. “No caso da vacina, como é feita em cultura de células de ovos, pode ocorrer a hipersensibilidade a proteínas de ovos, mas não é a mesma coisa que a intolerância digestiva a ovos”, referiu.
 
Podem existir sintomas da gripe após a vacinação e nesta época do ano, existem inúmeros vírus de infeções respiratórias na mesma altura que podem proporcionar quadros clínicos muito parecidos. Contudo, estar protegido contra a gripe não significa estar protegido contra qualquer infeção respiratória.
O pneumologista alertou que a grande eficácia da vacina reside na prevenção de formas graves de gripe, sendo que perante duas pessoas vacinadas, há a probabilidade de uma vir a desenvolver gripe mas sem gravidade.
 
“Na primeira vez que a pessoa tem gripe, a própria reação imunológica desencadeada pelos componentes da vacina simula um quadro próximo da gripe e as pessoas queixam-se. Costumo dizer aos doentes que é um bom sinal pois significa que o corpo reagiu imunologicamente bem à vacina e isso geralmente acontece na primeira administração, o que significa que nas administrações seguintes não vai ter essas manifestações”, acrescentou Filipe Froes.
 
A sessão encontra-se disponível no link da Sociedade Portuguesa de Pneumologia.

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