Especialistas e gestores apelam a uma economia mais sustentável e ao consumo responsável
- Apenas 7,2% da economia global é circular e a tendência tem vindo a desacelerar
- Economia circular pode crescer cinco vezes até 2040, gerando receitas de 820 mil milhões de euros
- Innovators Forum ‘24 Circularity juntou mais de 700 participantes e oradores nacionais e internacionais
- Iniciativa promovida pela Sonae debateu o estado atual da Economia Circular e explorou caminhos para a inovação e impacto positivo.
Os estados e as empresas necessitam de acelerar a sua aposta na circularidade de forma a construir uma economia mais sustentável, e, simultaneamente, as pessoas devem adotar hábitos de consumo mais responsáveis. Estas são duas das conclusões do Innovators Forum ’24 Circularity, iniciativa desenvolvida pela Sonae e que reuniu mais de 700 participantes e oradores nacionais e internacionais em Lisboa para debater a circularidade.
De acordo com os dados revelados na conferência, apenas 7,2% da economia global é circular, um número preocupante, ainda mais quando traduz um decréscimo face aos 8,6% de anos anteriores. Os dados são da Circle Economy Foundation, cuja CEO, Ivonne Bojoh, explicou no Innovators Forum que esta deterioração está associada ao crescimento populacional e à exploração desenfreada de materiais naturais, enfatizando que precisamos de inovação e de colaboração para redesenhar os nossos sistemas económicos. “A economia circular não é apenas sobre reciclagem, mas sobre inovação desde o início da cadeia”, afirmou.
Cláudia Azevedo, CEO da Sonae, realçou que a Circularidade é um caminho crítico para garantir um futuro sustentável e uma urgência global e local: “Nos últimos seis anos extraíram-se mais materiais do que no último século. É preciso fazer mais [para aumentar a circularidade]”. E acrescentou que a circularidade é um pilar estratégico para a Sonae, pois “não há bons negócios num mau planeta”. Desde 1995 que a Sonae apela para a importância de uma gestão ambiental integrada dos negócios, promovendo e implementando as melhores práticas.
Paulo Azevedo, presidente da Sonae, reforçou a mensagem, apelando ao consumo responsável. “Temos de deixar de transformar [o mundo] em poluentes e resíduos, mas sim transformá-lo em coisas úteis. Temos de usar menos”, afirmou. O gestor realçou ainda que "[Na Sonae] queremos vencer num mundo sustentável. Não queremos vencer num mundo insustentável”.
Medidas urgentes necessárias para promover a circularidade
A segunda edição do Innovators Forum, que se realizou de Lisboa para todo o mundo através do online, teve também como oradores Gunter Pauli (economista e especialista em Sustentabilidade), Cláudia Azevedo (Sonae), Raphaël Masvigner (Circul’R), Marta Brazão (Circular Economy Portugal), Ana Barbosa (IKEA Portugal), Sónia Cardoso (Sonae) e Filipa Pantaleão (BCSD Portugal), Anders Åhlén (McKinsey & Co), entre outros.
Gunter Pauli desafiou os empresários a pensar fora da caixa e a olharem para a circularidade como uma oportunidade, com diversos modelos. “Precisamos de empreendedores que façam a diferença. Precisamos de ação no terreno, precisamos de acelerar [modelos de negócio circulares].” E concluiu: “Nunca, enquanto empreendedores, percam a esperança de inspirar um futuro cliente”.
Bernd Halling, Head of Policy and Outreach da Re-imagine Europe, realçou que a legislação da economia circular da Comissão Europeia “ainda não foi amplamente adotada” pelos Estados-membros e que as “mudanças políticas no Parlamento Europeu podem afetar a eficácia das novas iniciativas”. O responsável salientou ainda que há preocupações sobre a colaboração entre os novos comissários e a capacidade de implementar mudanças práticas, bem como narrativas inexatas que podem dificultar a compreensão e aceitação das propostas de economia circular.
Raphaël Masvigner, co-fundador da Circul'R, destacou que a “economia circular é uma ferramenta fundamental para mitigar o risco” das empresas, até porque “haverá muitos choques nos recursos naturais por causa da escassez de matérias-primas naturais”. Segundo o especialista, as empresas precisam de pensar melhor os produtos desde a sua criação, salientando que o design per si pode reduzir até 80% do impacto de um produto. Raphaël Masvigner realçou também a importância de promover a reutilização e a reparação, criando um círculo mais curto de economia circular e sendo mais eficientes do que soluções como a reciclagem.
Os oradores no evento concordaram que a transição para uma economia circular exige esforços coordenados entre governos, empresas e consumidores. Entre as estratégias recomendadas estão políticas públicas que incentivem práticas sustentáveis com subsídios, além de criar métricas universais para medir impactos. As empresas devem investir em novos modelos de negócio baseados na reutilização e reparação, garantindo sustentabilidade financeira e ambiental. E os consumidores devem optar por produtos de maior durabilidade e impacto ambiental reduzido. Num mundo que enfrenta os limites do planeta, a economia circular é uma necessidade, não uma escolha.
É possível conciliar a criação de valor ambiental e social, mas também económico
A implementação de uma economia circular trará benefícios sociais e ambientais, mas também económicos. Anders Åhlén, da McKinsey, estima que os modelos de negócios circulares podem crescer cinco vezes até 2040, gerando receitas de 820 mil milhões de euros e criando novos mercados impulsionados por avanços da inteligência artificial e da biotecnologia. “Não podemos esperar. Precisamos agir agora para garantir um futuro sustentável”, ressaltou Åhlén.
No caso da Sonae, a aposta já permitiu alcançar um volume de negócios proveniente de produtos e serviços circulares de cerca de 90 milhões de euros em 2023, contribuindo diretamente para um impacto ambiental e social positivo. Adicionalmente, os negócios de retalho da Sonae conseguiram valorizar 85% dos resíduos e reduzir a utilização de plástico de uso único. No final de 2023, 86% das embalagens plásticas utilizadas nos produtos de marca própria eram recicláveis e as práticas de “desperdício zero”, adotadas pela MC, já evitaram o desperdício de bens alimentares no valor de 66 milhões de euros.
A aposta da Sonae na Economia Circular está a permitir implementar modelos de negócios e projetos inovadores que reforçam a sustentabilidade do grupo e têm impacto positivo na comunidade a nível ambiental, económico e social. A reparação de equipamentos eletrónicos, a reciclagem de vestuário e a venda de produtos em segunda mão ou a granel são alguns dos novos modelos de negócio que contribuem para o reforço da circularidade das atividades do grupo Sonae com impacto positivo na sociedade.
Reveja a conferência em https://innovatorsforum.pt/
Sobre o Innovators Forum
Fórum de partilha de conhecimento sobre áreas que impactam diretamente a sociedade. Desde a forma como educamos as nossas gerações futuras até às práticas sustentáveis que adotamos e à revolução digital que molda o nosso mundo, o Innovators Forum é uma plataforma para exploração, colaboração e progresso, adotando uma lente focada no futuro. E, uma vez que o futuro é moldado por diferentes áreas, todos os anos, o fórum aborda um tema distinto, explorando as suas possibilidades e potencial.
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Impactar: criar um impacto positivo e duradouro na sociedade
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1Comissão Europeia (QANDA_20_419_PT.pdf)
2Eurostat (Circular material use rate)
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