Alentejo recebe o único projecto do programa Europa Criativa coordenado por Portugal
Chama-se “Sonotomia” e une, de modo inovador, música, património e tecnologia em Portugal, Espanha e Hungria. O dínamo desta iniciativa é uma instituição da sociedade civil, algo não muito frequente entre nós, tal como o facto de irradiar a partir, não de Lisboa ou do Porto, mas de um território de baixa densidade: o Alentejo.
Definitivamente, algo está a mudar no nosso país. O segredo para isto? As sinergias de um festival de música, património e biodiversidade com instituições de diferentes quadrantes europeus, a partir de uma base ibérica bem estruturada. Surgem, assim, novas oportunidades para territórios de baixa densidade.
A Comissão Europeia anunciou os resultados do seu principal programa na área da cultura, Europa Criativa, distinguindo, dentro da categoria 1, um projeto que tem o epicentro no Alentejo, apresentado pela associação Pedra Angular, responsável pelo Festival Terras sem Sombra. Trata-se da única iniciativa coordenada por uma entidade portuguesa a obter a aprovação da União Europeia nesse âmbito, em 2019, num momento crucial para o futuro dos apoios atribuídos diretamente por Bruxelas às artes.
De acordo com a Agência Executiva para a Educação, o Audiovisual e a Cultura, organismo da União Europeia que gere os fundos internacionais para a cultura, foram apresentadas ao último concurso 346 candidaturas elegíveis, oriundas de todos os estados europeus, sendo selecionadas 87 para efeitos de financiamento comunitário.
O projecto “Sound Anatomy of Unique Places – SONOTOMIA” é desenvolvido pela equipa do Terras sem Sombra, com o apoio da SPI, em articulação com dois parceiros, ambos instituições de referência, ao nível europeu, no âmbito das artes, do património e da engenharia: a Fundación Santa María de Albarracin, do Governo de Aragão; e o Spatial Sound Institute, com sede em Budapeste, na Hungria, e atividade repartida por várias cidades alemãs, com realce para Berlim.
Revelar ao grande público uma Europa sonora
Esta iniciativa, focada no uso das tecnologias digitais para estudar e desenvolver as relações entre a música e as paisagens sonoras, incide em três ambientes específicos – rural, marítimo e urbano. O seu objectivo final visa uma abordagem bastante invulgar do património, tanto material como imaterial, através da presença envolvente da música e dos seus enquadramentos espaciais. Um âmbito pioneiro em que a engenharia acústica, por um lado, e a arte, a ciência e a natureza, por outro, se cruzam.
“Há um forte empenho da equipa do projeto SONOTOMIA em conquistar novos públicos não só para territórios periféricos, mas também para realidades artísticas e técnicas ainda pouco acessíveis a grandes faixas do público, queremos romper fronteiras e mostrar uma Europa diferente, inspirada pelas suas identidades sonoras”, assinala José António Falcão, diretor-geral do Terras sem Sombra.
A parceria luso-hispano-húngara liderada pelo Alentejo recebeu as felicitações da Comissão Europeia, o que, no que toca a Portugal, assume um sabor muito particular. Segundo o responsável pelo festival alentejano, “não foi fácil chegar a este ponto, devido à renhida disputa entre projetos de instituições muito fortes, de diferentes pontos da geografia europeia, mas o resultado permite mostrar como uma região do interior evoluiu, ao longo dos últimos 15 anos, e se posiciona em termos globais”. Nada disto teria sido possível sem uma rede sólida de parcerias, que dá continuidade há um trabalho iniciado pelo Terras sem Sombra em 2003, a partir das fileiras da sociedade civil, para tornar o Alentejo um destino relevante de arte e natureza.
“Trabalhamos dia a dia em articulação com os serviços descentralizados do Estado, os municípios, as universidades e os politécnicos, as instituições locais e as pessoas”, sublinha José António Falcão. A colaboração com Espanha, cada vez mais intensa, tem permitido ir mais longe e ganhar escala: hoje, todas as iniciativas são articuladas com os parceiros de outro lado da raia e competem, em pé de igualdade, com as grandes rotas artísticas e culturais da Europa.
21 outras entidades portuguesas vão receber o apoio de Europa Criativa, na qualidade de parceiros de projetos coordenados por outros países. Entre tais instituições, destacam-se a Universidade do Minho, a Câmara Municipal do Porto, a EGEAC, a CULTURGEST e a Biblioteca Nacional. O valor total do financiamento europeu a Portugal, no âmbito desse programa, é de 1.304.274 euros.
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