Investigadores exploram células do tamarilho com potencial para produção de substâncias ativas
Um grupo de investigadores do Laboratório de Biotecnologia Vegetal do Centro de Ecologia Funcional (CFE) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) tem vindo a explorar, ao longo dos últimos anos, linhas celulares de plantas solanáceas, nomeadamente o tamarilho, com o objetivo de induzir a produção de moléculas ativas em cultura in vitro com potencial para aplicação em diferentes setores.
O projeto PlantReact, um dos vencedores dos Prémios Semente da Universidade de Coimbra, centrou-se na produção de enzimas hidrolíticas, moléculas com a capacidade de decompor outras moléculas em frações mais simples.
«Estas enzimas têm um amplo leque de aplicações, incluindo nos setores industrial, farmacêutico e na luta contra fungos e bactérias, devido às suas propriedades de resposta a reações de stress. A obtenção de fontes sustentáveis para a produção destas enzimas é de grande relevância», considera Sandra Correia, investigadora do CFE e diretora do Departamento de Proteção de Culturas Específicas no Laboratório Colaborativo InnovPlantProtect.
Até ao momento, os resultados alcançados mostram que os produtos obtidos se enquadram na classe de compostos ativos com potencial para reduzir o impacto de fungos em determinadas culturas agrícolas, embora seja necessário mais financiamento para realizar testes adicionais e validar esta aplicação.
Segundo a especialista, no decorrer da investigação, foi possível realizar análises proteómicas detalhadas e compreender em que condições estas proteínas são produzidas, assim como identificar fatores que estimulam a sua produção. Além disso, foram conduzidos ensaios de atividade enzimática em condições in vitro, marcando um avanço significativo na exploração do potencial destas células vegetais. Foi ainda possível aumentar a escala de produção desses compostos através de crescimentos celulares em bioreatores.
«A agricultura celular, apesar de ser uma área emergente, mostra um enorme potencial para a produção de compostos ativos de forma controlada, segura e sustentável. As células vegetais destacam-se por possuírem características únicas que permitem produzir compostos de interesse industrial e alimentar, sem a necessidade de explorar recursos naturais de forma intensiva», revela a especialista, sublinhando que «este método possibilita controlar e até aumentar a produção de forma rigorosa».
De acordo com o grupo de investigação, o tamarilho revelou-se uma espécie particularmente adequada para esta investigação, dada a facilidade de indução de linhas celulares a partir de uma simples folha, transformando-a numa massa de células pluripotentes com um potencial metabólico variado. Estas células podem, assim, ser estimuladas a produzir diferentes compostos de interesse.
«O projeto PlantReact posiciona-se, assim, como um avanço promissor no desenvolvimento de soluções sustentáveis para a produção de moléculas ativas de alto valor, contribuindo para a inovação na agricultura celular e na biotecnologia vegetal», conclui.
O projeto PlantReact, financiado pelo Banco Santander, contou com a colaboração entre o CFE, o Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC), o Centro de Apoio Tecnológico Agro-Alimentar (CATAA) e a Universidade de Antioquia, na Colômbia.
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