MORfood, o projeto que quer ajudar a combater a má nutrição no mundo
Combater a desnutrição infantil em países em vias de desenvolvimento é o grande objetivo do projeto “MORfood - Microencapsulação de extratos de Moringa oleifera e sua aplicação em alimentos funcionais”, liderado pelo investigador Licínio Ferreira, da Universidade de Coimbra (UC).
O projeto, com a duração de três anos, tem um financiamento de cerca de 230 mil euros, atribuído pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e pela Aga Khan, uma fundação que apoia projetos nos domínios da saúde e educação, nomeadamente o desenvolvimento científico e tecnológico dirigido ao progresso da qualidade de vida no continente africano.
Além da equipa da Universidade de Coimbra, através da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCTUC), da Faculdade de Farmácia (FFUC) e da PRODEQ - Associação sem fins lucrativos do Departamento de Engenharia Química (DEQ) da FCTUC, também participam no projeto investigadores da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e da Universidade Agostinho Neto (UAN), em Angola.
O MORfood foca-se em produzir microcápsulas ricas em compostos bioativos extraídos de Moringa oleifera, conhecida como a planta da vida, que serão incorporadas em determinados alimentos (pão, iogurtes e sumos) para crianças em idade escolar, entre os 4 e 10 anos.
A Moringa oleifera, uma espécie nativa do norte da Índia, Paquistão e Afeganistão, e muito cultivada em países tropicais e subtropicais de África, Ásia e América Latina, é uma das plantas «mais nutritivas do mundo, muito rica, por exemplo, em proteínas, vitaminas e minerais, como cálcio e potássio. É uma planta que já é utilizada pelas populações africanas para combater um conjunto alargado de patologias, tais como asma, bronquite, hipertensão, diabetes, entre muitas outras. O nosso estudo centra-se nos extratos das folhas, a parte da planta mais rica em nutrientes», explica Licínio Ferreira, docente da FCTUC e investigador do Centro de Investigação em Engenharia dos Processos Químicos e dos Produtos da Floresta (CIEPQPF).
A equipa apostou na microencapsulação para enriquecer os alimentos, porque, segundo o coordenador do estudo, é uma tecnologia que apresenta muitas vantagens, neste caso «protege a atividade biológica de alguns compostos que são extraídos da planta e que de outra forma se degradariam. Por exemplo, no caso do pão, um dos alimentos que selecionámos, as microcápsulas podem ser introduzidas na própria farinha, e se os compostos não estiverem incorporados dentro destas microcápsulas, as suas propriedades iriam degradar-se e desaparecer durante o fabrico do pão, daí a importância das microcápsulas».
Nesta primeira etapa do projeto, os investigadores estão a caracterizar as amostras de folhas de moringa provenientes de Angola, de modo a obter a composição fitoquímica e nutricional das folhas. Após essa caracterização, que é fundamental, seguem-se os estudos de extração de compostos e seleção dos mais adequados ao objetivo do projeto, ou seja, compostos importantes para combater a desnutrição infantil.
Antes da fase da microencapsulação, os extratos serão selecionados, «porque eventualmente haverá compostos indesejáveis que têm de ser removidos. Desta seleção, obteremos frações enriquecidas de macronutrientes e micronutrientes que são benéficos para combater a desnutrição infantil, nomeadamente hidratos de carbono, vitaminas, sais minerais, entre outros», esclarece Lícino Ferreira.
No final do projeto, os alimentos funcionais (enriquecidos) com microcápsulas carregadas de nutrientes extraídos de moringa vão ser testados junto de crianças angolanas. São os chamados testes de aceitabilidade sensorial, para aferir a reação da população infantil a este tipo de alimentos.
Natural de Angola e conhecedor da realidade da desnutrição infantil naquele país, Licínio Ferreira nota que a desnutrição infantil é um grande flagelo mundial. «Segundo o relatório de 2020 da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), cerca de 8,9% da população mundial estava desnutrida em 2019, o que representa 690 milhões de pessoas. Ainda segundo esse relatório, este número corresponde a um aumento de 60 milhões de pessoas em comparação a 2014. É um flagelo que tende a agravar-se ao longo dos anos».
Se o projeto alcançar os resultados esperados, a equipa tentará depois estabelecer
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