Universidade de Coimbra coordena projeto internacional que aposta na gestão agroecológica de infestantes e pragas
Promover a transição agroecológica para a gestão de infestantes e pragas em toda a Europa é a principal ambição do projeto internacional GOOD, coordenado por Helena Freitas, professora catedrática do Departamento de Ciências da Vida (DCV) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), e que acaba de obter 5 milhões de euros de financiamento.
«Ao implementar uma abordagem multidisciplinar, o Agroecology for Weeds – GOOD pretende criar, implementar e avaliar práticas, sistemas e protocolos de Gestão Agroecológica de infestantes e demonstrar, em condições reais, como a adoção desta gestão pode reduzir fortemente o uso de herbicidas sintéticos, aumentar a sustentabilidade, produtividade e resiliência dos sistemas agrícolas», explica a coordenadora do projeto, que envolve mais de uma dezena de países europeus.
Atualmente, os sistemas agrícolas da União Europeia (UE) enfrentam desafios crescentes de sustentabilidade e produtividade devido ao impacto das alterações climáticas em toda a cadeia de valor agroalimentar, agravado pelos efeitos negativos da pandemia de Covid-19 e, mais recentemente, pelas instabilidades geopolíticas. Estes «são dois fatores que ameaçam a estabilidade do setor agrícola e enfatizam a necessidade de mudança na perspetiva/agenda agrícola europeia», observa Helena Freitas.
As infestantes são consideradas um dos fatores mais importantes para determinar a produtividade, rendimento e sustentabilidade da produção agrícolas. Portanto, os agricultores dependem fortemente de herbicidas devido à sua alta eficácia contra estas ervas nocivas e constituem a segunda categoria de pesticidas mais vendida na UE-27, representando, de acordo com o EUROSTAT, 35% de todas as vendas de pesticidas em 2020.
Perante esta realidade e reconhecendo a necessidade de acelerar a transição para sistemas alimentares sustentáveis, seguros e saudáveis, e enfrentar a ameaça da crise da biodiversidade, várias iniciativas políticas da UE, incluindo o EU Green Deal e sua Farm to Fork (F2F) e Estratégias de Biodiversidade, definiram como meta reduzir em 50% o uso de pesticidas sintéticos até 2030. Estas iniciativas serão transpostas para os Planos Estratégicos dos Estados-Membros da Política Agrícola Comum (PAC) através dos eco-esquemas.
«De acordo com a nova proposta sobre o uso sustentável de pesticidas, o foco deve ser direcionado para a promoção de adoção de métodos alternativos de controle de infestantes», considera a investigadora, acrescentando que, ao fazê-lo, «está a estabelecer-se pela primeira vez uma forte iniciativa para atingir os ambiciosos objetivos da Comissão Europeia (CE) com metas juridicamente vinculativas para a redução de pesticidas na UE».
Além disso, e segundo a professora da FCTUC, os aspetos socioeconómicos concomitantes envolvendo a gestão de ervas daninhas, simultaneamente com o papel dos agricultores na tomada de decisão, a preocupação pública com o uso e a resistência a pesticidas, a segurança alimentar, as questões gerais de saúde humana e as regulamentações governamentais resultantes exigem a redução da dependência excessiva de herbicidas e o desenvolvimento de abordagens de sistemas alternativos usando estratégias preventivas, mecânicas, culturais e biológicas combinadas com ferramentas de agricultura de precisão num contexto de Gestão Agroecológica de infestantes.
Com a duração prevista de quatro anos, este projeto desenvolverá uma Rede Agroecológica que engloba um ecossistema de 16 Living Labs (LLs), com a intenção de melhorar a cocriação de conhecimento, a decisão dos agricultores - criação e aceitação do utilizador final de abordagens. Esta rede de gestão será tanto uma rede física de LLs, permitindo aos utilizadores e parceiros a partilha de conhecimentos e experiências, como uma rede digital de todos os atores relevantes em toda a cadeia de valor agroalimentar, criando ligações com outros projetos e redes que operam no campo da Agroecologia e Gestão de Pragas.
Para a concretização deste objetivo final o novo projeto propõe diversas soluções focadas no «uso de plantas de cobertura em todos os laboratórios e o aumento de sua capacidade competitiva contra infestantes por meio de inoculação com microrganismos benéficos, a combinação de plantas de cobertura com outros métodos de Gestão Agroecológica e soluções digitais num esquema integrado para a redução da pressão de pragas e uso de herbicidas nos 16 LLs», conclui a investigadora.
Coordenado pelo Centro de Ecologia Funcional da FCTUC, o GOOD é um projeto Horizonte Europa e envolve, além de Portugal, países como França, Espanha, Itália, Grécia, Irlanda, Bélgica, Letónia, Países Baixos, Sérvia e Chipre.
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