Universidade de Coimbra obtém autorização pioneira para distribuição do Gálio-68, um isótopo essencial para o diagnóstico do cancro
A ICNAS-Produção, empresa da Universidade de Coimbra (UC), obteve autorização de distribuição do GalliUC, uma formulação de Gálio-68 produzido em aceleradores de partículas (ciclotrões), que vai revolucionar o uso deste isótopo para o diagnóstico do cancro.
A autorização foi concedida pelo INFARMED e é a primeira na Europa para o Gálio-68 e a primeira a nível mundial para um processo deste tipo, tendo inclusive obrigado à elaboração de uma nova monografia da Farmacopeia Europeia especialmente dedicada à produção de Gálio-68 em ciclotrões.
O Gálio-68 é um isótopo utilizado em exames PET (Tomografia por Emissão de Positrões) para o diagnóstico oncológico, nomeadamente em tumores neuroendócrinos e no cancro da próstata. Até agora, a única forma de obter este isótopo era através de equipamentos denominados geradores de gálio, dispositivos dispendiosos e com capacidade de produção bastante limitada. Por este motivo, existe uma escassez deste produto a nível mundial e, por vezes, os doentes têm de esperar vários meses até conseguirem realizar os seus exames.
Para o Reitor da Universidade de Coimbra, Amílcar Falcão, a autorização agora obtida representa «mais um passo para a afirmação da dimensão internacional do trabalho que é desenvolvido pela UC na área das ciências nucleares aplicadas à saúde».
Em Portugal, a ICNAS-Produção distribui, desde 2013, radiofármacos para PET preparados a partir de Gálio-68 produzido em geradores. Recentemente, resultado da sua investigação, a Universidade de Coimbra desenvolveu um processo de produção de Gálio-68 baseado em ciclotrões, o que possibilita «aumentar até 10 vezes a capacidade diária de produção, permitindo assim suprir as necessidades dos hospitais em relação a este isótopo essencial», destaca Antero Abrunhosa, investigador e Gerente da ICNAS-Produção.
O conceito desenvolvido pela UC, acrescenta, «é fortemente inovador, já que se propõe distribuir o isótopo, cabendo ao hospital cliente fazer a reconstituição do radiofármaco antes do exame. Para além de substituir os onerosos geradores, esta estratégia permite a flexibilidade de cada hospital ou clínica preparar o radiofármaco que mais lhe convém, de acordo com as suas necessidades clínicas em cada dia».
Este novo processo de produção de Gálio-68 foi patenteado pela UC e licenciado à multinacional belga IBA Radiopharma Solutions, líder europeu no fabrico de ciclotrões, que o vai comercializar em todo o mundo. «O retorno do licenciamento da patente (royalties), bem como da distribuição dos isótopos e radiofármacos, é integralmente destinado a suportar as atividades de investigação desta área na UC», conclui Antero Abrunhosa.
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